Folha de S. Paulo


Diretoria vira ré em ação que apura prejuízo de R$ 18 mi em estatal de MG

Parte da antiga diretoria da estatal mineira MGI (Minas Gerais Participações) se tornou ré em processo de improbidade por conta de uma venda de créditos feita há dez anos, durante a gestão do então governador Aécio Neves (PSDB). Para o Ministério Público, o negócio causou prejuízo de cerca de R$ 18 milhões aos cofres públicos.

Além da então presidente da MGI, Isabel Pereira de Souza, de outros dois diretores e cinco funcionários, as duas empresas que participaram da transação, Asset Alocation Gestão de Recursos e MPL Asset Management, também respondem ao processo.

A Asset e e a MPL tiveram lucro de 630% ao revender sete meses depois os títulos comprados da estatal, subordinada à Secretaria Estadual da Fazenda. Elas são acusadas de enriquecer ilicitamente com dinheiro público.

O Ministério Público de Minas Gerais pede multa e ressarcimento aos cofres públicos de R$ 53 milhões, com possibilidade de bloqueio dos bens dos réus.

A MGI era uma das credoras do Banco Open, falido nos anos 90, e vendeu os créditos em julho de 2006 por R$ 1,7 milhão, em leilão. À época, o processo de liquidação judicial do Open estava no fim. Sete meses depois, a Justiça do Rio comprou os mesmos créditos dos empresários por R$ 12,4 milhões, um lucro de R$ 10,7 milhões (R$ 18 milhões, em valores atuais).

"Um verdadeiro 'negócio das arábias', comparável somente a prêmios milionários de mega-sena!", escreveram os quatro promotores na ação civil acolhida pela 3ª Vara da Fazenda Pública de Belo Horizonte. Após reportagem da Folha revelar a transação, a investigação foi motivada.

Na época, Aécio classificou a venda como um "mau negócio". Isabel Pereira nega que tenha havido qualquer irregularidade na transação.

VENDA E COMPRA

Uma das acusações levantadas pelo Ministério Público é de que houve "imprudência e negligência" na venda, já que o processo de falência estava em fase adiantada, o que, segundo a Promotoria, facilitaria a verificação do valor real dos créditos.

"Por mais absurdo que possa parecer, da simples leitura das justificativas apresentadas pelos mesmos [MGI] para fixarem o valor mínimo de tal crédito, constata-se que não tiveram eles nem mesmo o cuidado de levantar formalmente e detalhadamente o real valor do acervo patrimonial da massa falida", dizem os promotores.

Outro ponto é a compra, que foi feita pela Asset, pertencente a Luiz Paulo Kossmann, que revendeu os créditos duas semanas depois à MPL, de Antonio Pinheiro Maciel, para receber quando a Justiça pagasse aos credores do Open –uma suposta triangulação que dificultaria localizar a origem do comprador. Maciel e Kossmann são sócios em outros negócios.

As transações indicam, para a Promotoria, "um negócio muito bem engendrado e articulado diante da certeza do ganho fácil e enriquecimento às custas do empobrecimento do erário mineiro".

OUTRO LADO

Procurada, Isabel Pereira de Souza disse, em nome da antiga direção da MGI, que a precificação e a metodologia do leilão dos créditos estavam "dentro das normas legais e prática de mercado".

Também afirma que não sabia que o processo de liquidação estava para encerrar.

Segundo ela, os créditos já estavam inativos havia dez anos, desde 1997, e tinham sido desprezados pelo proprietário original, o Bemge (antigo banco estatal de Minas).

"Tudo foi precificado adequadamente. Não me interessa quem levou o crédito. Nem conheço os empresários que ganharam", disse.

A reportagem não conseguiu localizar representantes da Asset Alocation e MPL.

À época da venda, Luiz Paulo Kossmann, da Asset, disse que ele e Maciel, da MPL, descobriram que os bancos estrangeiros tinham lançado os créditos do Open como perda em seus balanços e não se interessavam pela liquidação judicial. Por isso, os dois "deduziram que sobraria um bom dinheiro".


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