Folha de S. Paulo


Votar em comissão contrariaria minha consciência, diz deputado do PSB

Contrário ao impeachment, o deputado Bebeto Galvão (PSB-BA) defende que, caso a presidente Dilma Rousseff tenha seu mandato interrompido por causa das pedaladas fiscais, a Câmara toda deveria ser cassada.

Na votação da comissão, na segunda (11), Bebeto deu lugar a um suplente para não ser obrigado a seguir a orientação do seu partido e votar a favor da abertura do processo.

Em entrevista à Folha, o deputado confirmou que votará contra o impeachment no domingo (17), quando deve acontecer o pleito geral. Nessa ocasião, o PSB não limitará o posicionamento de seus parlamentares.

Divulgação
Deputado federal Bebeto Galvão (PSB-BA)
Deputado federal Bebeto Galvão (PSB-BA)

*

Folha - Por que o senhor escolheu ser substituído, em vez de votar contra a abertura do processo?

Bebeto Galvão - Se a representação era partidária, não me restava alternativa a não ser declinar. Ao contrariar a decisão partidária, você pode infringir o estatuto. Poderia ser passível, inclusive, de perda de mandato.

[No entanto,] avaliei que não havia a tipificação clara do crime [de responsabilidade fiscal]. Ou eu contrariaria a decisão partidária ou a minha consciência democrática.

O senhor acha que a decisão prejudica sua posição no PSB?

Não. O partido não trabalha com retaliações, tem respeito às posições internas. No meu caso, não tem do que o partido ter vergonha ou temor. Deveríamos temer, sim, um partido com características antropomorfas, de caciques.

A decisão teve a ver com sua boa relação com o ministro-chefe do gabinete da Presidência, Jaques Wagner?

Não tem a ver com Jaques Wagner ou Dilma, mas com a minha consciência democrática. Formei um juízo de valor independente de quem seja.

No domingo, o senhor aparecerá para votar? Qual será seu voto?

Estarei presente e não tenho dúvidas de que minha posição será contrária, dado ao que pude acompanhar e observar nesse processo, que é uma profunda ausência de dados substantivos.

Os contornos políticos desse impedimento, a baixa popularidade, inflação, desemprego, não constituem crime. Como vou julgar alguém só em função do conjunto da obra? Minha tendência é votar contra e não há chance de mudar.

O senhor ficou surpreso com a posição favorável do PSB à abertura do processo de impeachment?

Com a evolução da crise política, econômica e social, o partido e sua direção também foram evoluindo e o presidente disse que mudaria definitivamente para a oposição.

Chocou a todos porque não tivemos um longo debate político interno quando ele deu essa declaração. Me deixou surpreso em relação a alguns pontos da declaração, que respeitamos mas debatemos internamente.

Uma das coisas que achei fora do tom é que dos 12 anos de governo [do PT], o PSB participou de dez. Não podemos negar o que ajudamos a construir de bom ou o que enfrentamos de ruim.

Qual a sua opinião sobre as pedaladas fiscais? Elas caracterizam crime de responsabilidade fiscal?

Mais do que dizer que era tomada de empréstimo, era decorrência direta de contratos. Se [a Dilma] perder o mandato, cassa todos os deputados. Se votamos o PLN 5/15 e dissemos que a meta fiscal se alteraria...

A presidente não fez com as mãos dela a alteração da meta fiscal, quem fez foi o Congresso. A Câmara [dos Deputados] não foi corresponsável por isso?

Como o senhor vê a possibilidade de novas eleições apenas para a Presidência? E de novas eleições gerais?

Ninguém diz "vamos tirar Dilma e queremos [Michel] Temer". Dilma e Temer geraram a crise.

Ambos poderiam ter a iniciativa de, se a crise continuar em 30 dias, renunciar e convocar novas eleições para a Presidência, que é o que o povo quer. Concordo com novas eleições gerais, para tudo.

Fazer eleição para presidente com o Congresso desse jeito, poderíamos entrar na mesma roda viva.


Endereço da página:

Links no texto: