Folha de S. Paulo


PMDB usa piadas e trocadilhos para criticar Dilma nas redes sociais

No fim de semana que antecedeu a votação do relatório que pede o impeachment de Dilma Rousseff, o PMDB elevou o tom de críticas contra a presidente nas redes sociais.

Em uma série de posts em sua página oficial no Facebook, o partido do vice-presidente Michel Temer, principal beneficiário da deposição da petista, acusa a presidente de negociar cargos para barrar sua deposição.

"O único jeito de Dilma evitar o impeachment é criando 171 ministérios", diz um dos posts, publicado nesta segunda (11). O texto faz ironia com os 172 votos necessários para impedir que o processo de impeachment avance na Câmara citando o "171", artigo do Código Penal referente ao estelionato.

Outra publicação, feita neste domingo (10), afirma que Dilma "usa R$ 38 bilhões para negociar cargos", em referência ao valor em recursos do Orçamento dos cargos que estariam sendo negociados para brecar o impeachment.

O PMDB também diz que a presidente "Dilma é 10", "10% de inflação, 10% de desemprego e 10 milhões de desempregados".

O partido de Temer diz ainda que a deposição da petista "não é golpe". "Hoje não é 1964, Dilma não é Jango", numa comparação com o presidente João Goulart, deposto pelo golpe militar em março de 1964.

Nesta mesma publicação, em que coloca lado a lado uma foto de Dilma e outra de Jango, o PMDB afirma que a "turma" da presidente Dilma "foi presa pela Lava Jato" e que ela "tenta acabar" com a operação, enquanto Jango "não tinha amigos corruptos" e "nunca obstruiu a Justiça".

O post não cita, no entanto, que integrantes do próprio PMDB estão na mira das investigações.

BASTIDORES

A Folha apurou que, embora as publicações não passem pelo crivo de Temer, o vice-presidente é informado do teor.

Segundo tem relatado a interlocutores, desde que o PMDB rompeu oficialmente com Dilma Rousseff, Temer diz se sentir "mais livre" para rebater as acusações de que é golpista e "mudar o tom" em relação ao governo.

Nos bastidores, Temer e seu núcleo duro - o senador Romero Jucá (RR), Eliseu Padilha e Moreira Franco - avaliam que o país vive o momento do "bem contra o mal". Na palavra de um interlocutor do vice-presidente, é o "Brasil contra o PT".

Eles têm comparado ainda o atual momento com a eleição de Tancredo Neves, o primeiro civil presidente da República depois da ditadura militar. Trinta anos depois, o PMDB pode voltar à Presidência.

Em recente conversa com dirigentes do PSDB, Temer disse estar confiante que o impeachment da presidente seja aprovado e afirmou estar "muito centrado no futuro do país".

Embora o presidente nacional tucano, senador Aécio Neves (MG), diga publicamente que ainda não está em discussão se o PSDB aceitará ou não cargos em um futuro governo Temer, internamente cresce a tese de que há quadros no partido dispostos e capazes de "ajudar o país".

ÁUDIO VAZADO

Mais cedo nesta segunda-feira, o vice-presidente da República, Michel Temer, enviou um discurso de 15 minutos a parlamentares de seu partido, o PMDB, em que fala como se o impeachment tivesse sido aprovado pela Câmara dos Deputados. A votação só está prevista para ocorrer neste domingo (17). A fala é uma espécie de carta de apresentação do que seria uma gestão capitaneada por ele.

A assessoria de Temer confirmou a veracidade do áudio e disse que o vice o enviou "por acidente" aos aliados. "Trata-se de um exercício que o vice estava fazendo em seu celular e que foi enviado acidentalmente para a bancada".


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