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Mirian Dutra diz que 'não se lembra' de ter assinado contrato com a Brasif

Bruno Santos/Folhapress/Reprodução/Youtube
Montagem de fotos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e da jornalista Mirian Dutra
Montagem de fotos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e da jornalista Mirian Dutra

A jornalista Mirian Dutra, que foi amante do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, afirmou nesta sexta-feira (8) que "não se lembra" se assinou ou não um contrato com a empresa Brasif.

Em fevereiro, em entrevista à coluna Mônica Bergamo, Mirian disse que FHC usou a empresa, por meio de um contrato fictício de trabalho em nome da jornalista, para fazer remessas de dinheiro a ela, para custear a educação de seus filhos na Europa. O documento com a Brasif foi entregue à Folha pela própria Mirian. A empresa confirmou a existência de um contrato com a jornalista, mas diz que FHC não participou do acordo.

"Eu tinha um contrato com a TV Globo, e esse contrato era de exclusividade. Não conheço, nunca tive contrato com outra empresa", disse, em entrevista ao programa "Mariana Godoy", da RedeTV!.

"Se houve esse contrato [com a Brasif], eu sinceramente não me lembro."

A jornalista negou que tenha apresentado versões diferentes sobre o caso na entrevista à Folha e no depoimento que deu à Polícia Federal nesta quinta (7).

"Não existem versões diferentes, existem esclarecimentos. Eu esclareci todas as coisas que o delegado me perguntou, com toda a tranquilidade", afirmou.

"Eu não me lembro exatamente como as remessas eram feitas, minha única preocupação era que chegasse o dinheiro para pagar o colégio [dos filhos]", completou. "A gente [Fernando Henrique e ela] tinha uma pessoa de confiança que fazia esse contato".

Quando perguntada se é possível que essa pessoa tenha pedido a ela para assinar o contrato sem seu conhecimento, Mirian respondeu que "um montão de coisas pode ter acontecido, e eu não me lembro".

Em nota divulgada na noite de quinta, os advogados da jornalista afirmam que os pagamentos de Fernando Henrique para custear os estudos de Tomas, filho de Mirian, eram feitos na conta bancária dela; hoje, o destino é a conta do garoto.

Ela ainda relativizou a importância do caso –investigado pela Polícia Federal por suspeita de evasão de divisas.

"O Brasil está com tanta dificuldade, está o samba do crioulo doido, e estão preocupados com a Mirian Dutra? Eu estou procurando emprego!", disse.

"O interesse das pessoas parece ser 'Se a lambança começou, vamos fazer uma lambança total'. Qualquer coisa que ele [Fernando Henrique] possa ter feito, já prescreveu."

A jornalista também se isentou de maiores responsabilidades. "O problema [de eventual evasão de divisas] é dele, não é meu", disse. "Ele mandava o dinheiro, o dinheiro que eu recebia pagava religiosamente o colégio."

Mirian Dutra teve um relacionamento com o ex-presidente nos anos 1980 e 90 e, em 2009, FHC decidiu reconhecer oficialmente a paternidade de Tomas.

O ex-presidente sempre negou ter usado a Brasif e diz que os recursos enviados ao filho provêm de rendas legítimas de seu trabalho, depositadas em contas legais e declaradas à Receita.

POLÍCIA FEDERAL

Sobre o depoimento que deu à PF, Mirian se resumiu a classificá-lo de "cansativo" –ele durou quase seis horas. "O delegado insistiu muito se eu sabia se ele [FHC] tinha algum tipo de pretensão política –eu disse que não tinha a menor ideia–, e centrou muito a questão do dinheiro, como eu recebia", contou, sem entrar em mais detalhes.

Quando perguntada sobre os motivos que a levaram a revelar o caso, a jornalista disse que não se deixaria "ser usada".

"Me respeita, Mariana", rebateu, depois de a âncora questionar se ela teria recebido dinheiro "de alguém ou do PT" para falar.

"Já tenho certa idade, capacidade de pensar para me deixar ser usada. Infelizmente aconteceu de eu dar a entrevista e haver essa repercussão toda", afirmou.

"Eu não recebi dinheiro, eu não sou milionária, não vou compactuar com ninguém."

Segundo a jornalista, ela decidiu falar para tentar limpar seu nome, "desarranhar o que estava arranhado". "Eu estou procurando emprego, e quem fosse me contratar não ia ver nenhuma reportagem minha, só sites me insultando, me colocando na pior posição possível", afirmou.

Ela ainda disse que "todos" os que a desrespeitaram na internet e em redes sociais por causa da divulgação do caso serão processados.

Mirian também negou que sua mudança para a Europa esteve ligada ao caso que ela teve com o ex-presidente, quando ele ainda era senador –do qual, segundo ela, guarda arrependimento.

"Não fui mandada para fora do Brasil, foi uma decisão única e pessoal, para a educação dos meus filhos", comentou.

"Mas eu acho que, se saísse alguma coisa naquela época [sobre o caso dos dois na imprensa], ia quebrar um eixo da vida dele, que é a família. Na minha opinião, [a carreira política de FHC] ia ser afetada."


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