Às vésperas de formalizar sua pré-candidatura à Prefeitura de São Paulo –com anúncio previsto para o próximo domingo (10)– a deputada federal Luiza Erundina aposta na aprovação de sua administração (1989-1992) para superar a falta de estrutura enfrentada por seu partido, o PSOL.
"Há condições que possam sugerir que não é uma simples aventura", diz ela, que deixou o PSB para fundar um novo partido, batizado de Raiz Movimento Cidadanista, e deve permanecer no PSOL enquanto não viabiliza a sigla.
Hoje, afirma Erundina, sua gestão "é mais reconhecida e mais bem avaliada" do que no momento em que deixou a prefeitura.
A deputada federal –que, em sua última corrida eleitoral ao cargo, em 2004, teve o hoje vice-presidente da República Michel Temer como companheiro de chapa– diz que o peemedebista deveria ser mais solidário à presidente Dilma Rousseff.
"Ele está abandonando o barco em um momento de dificuldade", afirma.
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Folha - O PSOL se manifesta contra o impeachment. Não em defesa do governo, mas pela legalidade do mandato...
Luiza Erundina - É minha posição e uma das razões por que deixei o PSB. Estava incompatibilizada com o PSB desde as eleições, completamente isolada na bancada, discordando das posições que o partido estava adotando em relação ao governo e ao impeachment.
Eu me sinto confortável no PSOL. Somos críticos aos governos Lula e Dilma há muito tempo, mas entendemos que o impeachment só se justifica se houver um efetivo, concreto e comprovado fato de crime de responsabilidade.
A senhora teve Michel Temer como vice de sua chapa para a prefeitura [em 2004]. Como vê a atitude dele hoje?
Não gostaria de fazer juízos individuais. Eu exigiria de Temer mais solidariedade com a presidente do ponto de vista de que é da mesma chapa, do mesmo governo. É um partido que participa com muitos ministérios. Como participaram do governo Lula.
Não são só as posições do vice-presidente Michel Temer, mas do PMDB. Estão saindo do barco porque o barco está tendo dificuldade. Isso me dá bastante insatisfação. Do PMDB, a gente não espera muito mesmo. Mas o vice-presidente poderia ter sido mais solidário com o momento que o governo está vivendo.
Por isso eu digo que é uma disputa política bastante focada na disputa pelo poder. E o vice-presidente Michel Temer está nessa.
A senhora se livrou dele como vice?
[Risos] Ele foi muito correto durante a campanha. Saímos amigos da experiência que tivemos. Hoje, ele está muito distante. Ele é poder. A gente não chega muito perto do poder, né? Mas ficamos amigos.
Em São Paulo, boa parte do eleitorado apoia o impeachment. A senhora acha que seu voto no Congresso vai prejudicá-la eleitoralmente?
Não estou preocupada com isso. Sabe o que explica –nessas alturas da vida, em que devo ter causado insatisfação a muita gente, como também ter atendido à expectativa de muita gente– essa lembrança do meu nome? É minha coerência. Nunca tive duas posições.
Não é surpresa para ninguém se atentarem para os argumentos em que estou baseada para essa minha posição. Pode ser que não compreendam agora. Mas no futuro haverão de compreender. E se não compreenderem, paciência. Estou tranquila com minha consciência, com minha história e com meu compromisso de vida. E isso me basta.
Se vai me prejudicar eleitoralmente, é outro capítulo. Mas não estou indo apenas para catar votos. Mas para repensar a cidade.
O que a senhora acha da administração Haddad?
Bastante limitada. Ele não tem um projeto estratégico para a cidade de São Paulo. Haddad está aquém do que se esperava dele, particularmente em relação à participação popular. Há muita queixa na periferia.
Ele se elegeu prometendo ouvir as comunidades locais na escolha dos subprefeitos. Ele está aquém das políticas e na gestão. É uma gestão centralizada. As subprefeituras não têm poder real, as demandas populares não têm canal de encaminhamento. Isso é ruim para um governo que se diz democrático e popular.
Como a senhora lida com a falta de estrutura do PSOL?
Pode ser compensada. Sou mais conhecida, provavelmente, que os outros candidatos. Fui vereadora, deputada, com uma militância muito forte. Estou no quinto mandato. E os mandatos têm uma relação muito direta, orgânica, com a sociedade, com os movimentos.
Minha presença em São Paulo não é para descansar. Fico em Brasília só os dias em que há votação e trabalho no Parlamento. Todo o tempo estou na cidade, porque a cidade não conta com muitos mandatos de vereadores verdadeiramente a serviço das demandas populares.
Todos sabem as minhas possibilidades e minhas limitações, mas têm vivido comigo a experiência de participação popular. Nosso governo só se viabilizou porque de fato foi uma aliança concreta com os movimentos sociais e populares. Tinha minoria na Câmara durante os quatro anos. Para ter maioria na Câmara, eu tinha que fazer concessões éticas e, para fazer isso, os nossos adversários fazem melhor.