Folha de S. Paulo


Empresário começou como cobrador e comprou jornal visando 'liderança'

Sergio Lima - 17.nov.2005/Folhapress
O empresário e dono do
O empresário e dono do "Diário do Grande ABC" Ronan Maria Pinto teve prisão preventiva decretada pela Lava Jato

Sobre uma mesa lateral em sua sala no prédio do jornal de que é dono, no centro de Santo André (Grande SP), o empresário Ronan Maria Pinto, 62, preso nesta sexta (1º), mantém a réplica de um ônibus do final dos anos 1970.

A miniatura foi um presente dado, há alguns anos, por um dos filhos do empresário Nenê Constantino, para quem Ronan trabalhou e de quem foi sócio minoritário em várias empresas de ônibus nos anos 70 e 80, até romperem em 1996. A família de Constantino viria a fundar, depois, a companhia aérea Gol.

Em um cofre atrás de sua mesa, Ronan guarda a rescisão do contrato com uma empresa para a qual trabalhou como caminhoneiro em Brasília, no início da década de 70. Ele pediu a conta, vendeu o caminhão e foi ajudar Nenê nas empresas de ônibus.

Bom narrador e carismático, é a partir desses objetos que o empresário costuma contar sua história, desde o primeiro emprego, como cobrador de ônibus da Gontijo, no interior de MG, até a chegada a Santo André, em 1983.

Apesar de ainda ser dono de empresas de ônibus, ramo em que fez fortuna, Ronan tem passado, nos últimos anos, a maior parte do tempo no "Diário do Grande ABC", comprado por ele em 2004.

Para uma pessoa próxima, a compra do "Diário" é parte do projeto de poder do empresário e surpreendeu familiares e amigos. Como o próprio Ronan diz, ele estudou "só até a quarta série". Mas, em conversas mais formais, afirma que investiu porque vê potencial econômico e de liderança no ABC Paulista.

'ABALO'

O assassinato, em 2002, do então prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), e as suspeitas de que o crime tivesse relação com um esquema de corrupção na prefeitura "abalaram" a vida profissional e familiar de Ronan, segundo pessoas próximas.

Em novembro passado, o empresário foi condenado em primeira instância a 15 anos e seis meses de prisão por concussão (cobrança indevida) e corrupção passiva, num processo que se arrastava desde aquela época.

Ronan foi acusado de ter se associado a Klinger Souza, secretário municipal de Transportes, e a Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, amigo de Celso Daniel e homem influente na prefeitura, para extorquir donos de empresas de ônibus da cidade.

Seu papel no esquema, segundo a sentença, era fazer o contato com os empresários do setor e cobrar a propina –cerca de R$ 500 por ônibus em circulação. Ele nega os crimes. O processo está em fase de apelação, e os réus recorrem em liberdade.

Recentemente, uma decisão do Supremo que passou a permitir que pessoas condenadas em segunda instância sejam presas antes do trânsito em julgado fez Ronan manifestar temor em relação a esse processo.

Preocupado com sua imagem na cidade, criou, no fim de 2015, um blog em que escreve sobre "assuntos do cotidiano", como a volta da CPMF, pretendida pelo governo federal, ou a reorganização das escolas da rede pública estadual.

Casado por 38 anos, Ronan separou-se da mulher, Terezinha, em 2013. Tem um casal de filhos e quatro netos, com os quais costuma passar os fins de semana em um sítio na região metropolitana.

'INDEPENDÊNCIA'

Considerado um empresário "destemido" em seu círculo de convívio, uma das broncas de Ronan, segundo interlocutores, é ter sua imagem de sucesso empresarial vinculada a supostos benefícios concedidos pelo PT.

Para o Ministério Público paulista, que investigou a corrupção na gestão de Celso Daniel, Ronan associou-se ao grupo do poder com o objetivo de expandir seus negócios na cidade. O empresário, porém, repete com frequência que já era rico antes do mandato do petista –"mais rico que agora", costuma dizer.

Sinal de independência política, conforme pessoas próximas, é a linha editorial adotada por seu jornal, que não se furtaria a fazer críticas a administrações petistas.

Da época de proximidade com Sombra e Klinger, Ronan mantém o hábito de almoçar com regularidade no restaurante Baby Beef, um de seus preferidos, no bairro do Jardim.

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