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Moro diz ser 'possível' que esquema na prefeitura tenha relação com morte de Celso Daniel

Paulo Lisboa/Folhapress
CURITIBA, PR, BRASIL, 17-03-2016, 20h035: O juiz federal Sérgio Moro durante o seminário sobre combate à lavagem de dinheiro na noite desta quinta-feira (17) em Curitiba no Bourbon Convention Hotel. (Foto: Paulo Lisboa/Folhapress, Politica)
O juiz federal Sergio Moro durante seminário em Curitiba

O juiz Sergio Moro afirmou que "é possível" que a morte do prefeito Celso Daniel, em 2002, tenha relação com o esquema de corrupção e extorsão na Prefeitura de Santo André (SP), "o que seria ainda mais grave", segundo o magistrado.

A avaliação foi feita na decisão que autorizou a execução da 27ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada nesta sexta (1º) e que tem entre os alvos o empresário e dono do "Diário do Grande ABC" Ronan Maria Pinto, além de condenados no esquema de corrupção do mensalão no governo Lula, como o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira e o ex-tesoureiro Delúbio Soares.

Moro relata que Ronan Maria Pinto foi condenado na Justiça de Santo André por crimes de extorsão e corrupção ativa no esquema de corrupção e extorsão na Prefeitura de Santo André. "É ainda possível que este esquema criminoso tenha alguma relação com o homicídio, em janeiro de 2002, do então prefeito de Santo André, Celso Daniel, o que é ainda mais grave", afirmou Moro.

"Se confirmado o depoimento de Marcos Valério [operador do mensalão], de que os valores lhe foram destinados em extorsão de dirigentes do PT, a conduta é ainda mais grave, pois, além da ousadia na extorsão de na época autoridades da elevada Administração Pública, o fato contribuiu para a obstrução da Justiça e completa apuração dos crimes havidos no âmbito da Prefeitura de Santo André", completou.

Sergio Lima - 17.nov.2005/Folhapress
O empresário e dono do
O empresário e dono do "Diário do Grande ABC" Ronan Maria Pinto teve prisão preventiva decretada

No documento, o juiz cita que Marcos Valério "declarou uma possível motivação, de que indivíduos do PT estariam sendo vítimas de extorsão da parte de Ronan Maria Pinto" e "citou expressamente como envolvidos" Sílvio Pereira, José Dirceu, o ex-ministro Gilberto Carvalho, o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva e o jornalista Breno Altmann.

Moro afirmou que a fala de Marcos Valério "embora deva ser vista com muitas reservas, o fato é que metade do valor do empréstimo foi, pela prova colhida, inclusive documental, destinada a Ronan Maria Pinto."

O referido empréstimo seria de R$ 12 milhões e foi contraído em 2004 pelo pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente, cujo destinatário final teria sido o PT.

"Chama a atenção o malabarismo financeiro para viabilizar a transação, tendo o valor transferido do Banco Schahin para Ronan Maria Pinto passado por três intermediários (José Carlos Bumlai, Bertin Ltda. e Remar Agenciamento)", disse o juiz, além da elaboração de contratos fraudulentos de mútuo para ocultar a operação, um deles com utilização da empresa 2 S Participações de Marcos Valério.

Irmão de Celso Daniel, Bruno José Daniel prestou depoimento e relatou que após o homicídio, lhe foi relatada a existência desse esquema criminoso [Santo André] e que envolvia repasses de parte dos valores da extorsão ao PT.

De acordo com seu relato, o fato lhe teria sido relatado por Gilberto Carvalho e por Miriam Belchior [ex-mulher do prefeito e ex-ministra].

Ele contou aos investigadores que o destinatário dos valores devidos ao PT seria José Dirceu e levantou suspeitas ainda sobre o possível envolvimento de Sergio Gomes da Silva no homicídio do irmão. Declarou não ter conhecimento do envolvimento de Ronan Maria Pinto no episódio ou de extorsão por ele praticada contra o Partido dos Trabalhadores.

OUTRO LADO

A assessoria de Gilberto Carvalho informou que "ele não participou de nenhuma negociação com Ronan Maria Pinto, conforme evidências apontadas" e que ele não teve conhecimento da operação envolvendo a compra do jornal.

Sobre a morte de Celso Daniel, a assessoria de Carvalho disse que o PT, desde o início, "teve o máximo interesse no esclarecimento dos fatos". Acrescentou que a investigação do caso esteve sob comando da Polícia Federal do tucano Fernando Henrique Cardoso e da Polícia Civil do tucano Geraldo Alckmin. "A morte de Celso Daniel representou a perda de um grande companheiro e um excelente quadro político", informou.


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