Há anos recluso, o escritor Raduan Nassar surgiu em público nesta quinta-feira (31) para defender a legalidade do governo da presidente Dilma Rousseff. Em um evento no Palácio do Planalto, ele afirmou que a petista não cometeu crime de responsabilidade e, por isso, disse que não há motivos que embasem o processo de impeachment que tramita contra ela no Congresso Nacional.
Na rara aparição pública, o escritor, tido como um dos principais autores brasileiros vivos, participou do "Encontro com Artistas e Intelectuais em Defesa da Democracia", realizado nesta manhã.
"Não sou filiado a partido político. Falo, pois, com a liberdade que me concedo. A presidenta Dilma Rousseff não cometeu crime de responsabilidade. Repito: não cometeu crime de responsabilidade", disse.
Raduan disse também que aqueles que insistem no afastamento da presidente "atropelam a legalidade subvertendo o Estado Democrático de Direito".
"Os que tentam promover a saída de Dilma arrogam-se hoje, sem pudor, como detentores da ética mas serão execrados amanhã. Não tenho dúvida", disse, sendo fortemente aplaudido pelos demais artistas e intelectuais que também participaram do ato.
Roberto Stuckert/Presidencia/Xinhua | ||
Beth Carvalho, Raduan Nassar, Letícia Sabatella e Dilma no ato |
Mesmo elogiado como um clássico contemporâneo, Raduan Nassar abandonou a literatura nos anos 1980 e mergulhou na reclusão. Àquela altura, havia publicado "Lavoura Arcaica" (1975) e "um Copo de Cólera" (1978), dois clássicos da literatura brasileira. Passou a cuidar de sua fazenda, a Lagoa do Sino, localizada no município de Buri, no interior de São Paulo, voltada ao cultivo de grãos e à pecuária bovina.
Ao abandonar a agropecuária, em 2011, doou a fazenda à Universidade Federal de São Carlos –em 2007, já doara terras a funcionários e ex-funcionários da fazenda.
Depois de publicar seus clássicos, só mais dois textos seus apareceram. O ensaio "A Corrente do Esforço Humano" (1987), publicado na Alemanha e inédito em português, e "Menina a Caminho e Outros Textos" (1997).Esse volume, publicado como comemoração pelos 20 anos da Companhia das Letras, havia o conto "Mãozinhas de Seda" (1996), então inédito.
Raduan vive hoje em sua casa em São Paulo. Às vezes, embora raro, recebe leitores que batem à sua porta pedindo para conversar. Suas aparições públicas são raras –as entrevistas à imprensa, raríssimas. As últimas vezes em que apareceu em público foram na Balada Literária de 2012, na qual era autor homenageado (presencialmente), e em vídeo no YouTube de apoio à reeleição de Dilma Rousseff, em 2014.
LEGALIDADE
O evento com os artistas faz parte de esforço do Palácio de tentar repetir a "Campanha pela Legalidade" da década de 1960, feita em defesa da posse de João Goulart após a renúncia de Janio Quadros. Na semana passada, ato similar foi realizado com advogados e juristas.
Os participantes entregaram à presidente manifestos e moções contrárias ao impeachment e entoaram gritos contrários como "não vai ter golpe" e "golpistas não passarão", além de terem feito criticas às coberturas dos veículos de imprensa.
Entre os presentes, estavam as cantoras Beth Carvalho e Leci Brandão, os atores Osmar Prado, Letícia Sabatella, Antônio Pitanga e Tássia Camargo, a diretora Anna Muylaert e o produtor de cinema Luiz Carlos Barreto.
Para Osmar Prado, não há "causa suficiente" para o impeachment da presidente. "Não há nada que desabone a presidente e pedalada fiscal não é crime de responsabilidade", defendeu.