Folha de S. Paulo


Com sem-teto à frente, movimentos fazem ato contra impeachment em SP

Manifestantes encabeçados pelo MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) fizeram nesta quinta-feira (24), nas zonas oeste e sul de São Paulo, um ato contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff e o que classificaram como golpe da direita.

Um dos principais alvos do protesto foi a TV Globo –que, segundo os manifestantes, "apoia um golpe contra a democracia no país". Também atacaram o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e os partidos PSDB e DEM.

A Polícia Militar não fez nenhuma estimativa de público até a publicação deste texto. Segundo o MTST, foram cerca de 30 mil.

Os manifestantes terminaram o ato –que começou no largo da Batata (zona oeste)– em frente à sede da emissora, no Brooklin (zona sul). Ali, soltaram fogos de artifício. Alguns manifestantes picharam a calçada e uma das paredes de entrada.

Na frente da Globo, as lideranças do MTST anunciaram que o governo assinará os contratos do programa Minha Casa, Minha Vida 3.

E gritaram: "Globo, coxinhas e Fiesp, não passarão".

Embora sejam contra o impeachment, os líderes da manifestação disseram que o ato não é de apoio ao governo. Mas o presidente do PT, Rui Falcão, subiu num carro de som e discursou.

"Esse ato mostra que muita gente, de vários setores sociais, está lutando contra o golpe. Sabem que o impeachment significa um retrocesso, a imposição de uma pauta neoliberal, com arrocho e privatizações", disse Falcão.

Ele negou a informação de que o ex-presidente Lula será assessor especial de Dilma. "Minha posição é de que Lula tem que ser ministro", disse.

Participaram do ato cerca de 30 movimentos, boa parte deles ligados à questão da moradia, que compõem a Frente Povo Sem Medo, que usa como uma espécie de slogan a frase "a saída é mais à esquerda".

Além de moradores de ocupações da Grande São Paulo, havia representantes do PC do B, partido da base do governo, MST (Movimento Sem-Terra), CUT (Central Única dos Trabalhadores) e o MLB (Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas).

SHOPPINGS

O grupo fez uma caminhada que seguiu pela avenidas Brigadeiro Faria Lima, Juscelino Kubitschek e Luís Carlos Berrini. Em frente ao shopping Iguatemi, que baixou as portas quando os manifestantes passaram, houve gritos de "ei, coxinha, vai tomar no c...". A cena se repetiu em frente ao JK Iguatemi e ao mercado Eataly.

Os manifestantes também acusam o juiz Sergio Moro de agir como herói, tomando porém decisões contra a democracia.

A frente já fez outros atos contrários ao que chamam de golpe contra a democracia, mas sem poupar a própria presidente.

Os movimentos são contrário ao ajuste fiscal previsto pela gestão Dilma, pois temem que os investimentos em áreas sociais –como os do projeto Minha Casa, Minha Vida– sejam reduzidos.

"Os do andar de cima têm que pagar a conta da crise", disse o líder do MTST, Guilherme Boulos, que também é colunista da Folha,.

"Estamos nas ruas para deter uma ameaça à democracia, que também é um golpismo. O que vivemos hoje no país é autenticamente um golpe sem militares nas ruas, mas que ataca as liberdades democráticas e direitos sociais", disse Boulos.

Em Brasília, um grupo de aproximadamente 50 pessoas faz uma manifestação contra o impeachment de Dilma em frente ao prédio da TV Globo, com palavras de ordem como "Não vai ter golpe".

NO RIO

Também nesta quinta (24), centenas de pessoas pessoas participam de uma manifestação na Cinelândia, região central do Rio, contra o impeachment de Dilma.

Um dos objetivos do protesto também é dar apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que teve sua nomeação ao ministério da Casa Civil suspensa pelo STF (Supremo tribunal Federal).

O ato que começou por volta das 16h, foi convocado por meio de redes sociais e contou a divulgação do ator Gregório Duvivier (colunista da Folha), do cantor Tico Santa Cruz e da cartunista Laerte Coutinho, que gravaram vídeos apoiando a ação.

"Ninguém está aqui para defender governo, mas pelos milhões que votaram na presidente Dilma. Temos que lutar pelas pessoas que não entendem o que é democracia. Tem um grupo que não venceu nas urnas e está querendo sabotar as ruas. Sessenta e quatro nunca mais", afirmou Tico Santa Cruz.

Os manifestantes levam para o protesto cartazes com as frases "não vai ter golpe" e com críticas ao juiz Sérgio Moro e ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Os manifestantes pediam que o senador Aécio Neves também seja investigado pela operação Lava Jato.

De acordo com a advogada Fernanda Góis, 47, o objetivo do ato é chamar atenção para a "tentativa de golpe" no Brasil.

"As pessoas têm que ver que tudo isso é um golpe. A nossa presidente ganhou as eleições de forma justa e só sairá no final do mandato, quando o Lula voltará a governar nosso país. Só assim para crescermos e sermos um país justo", afirmou a advogada.

O ato, que tem a apresentação de diversos cantores, também conta com a presença de representantes da CUT (Central Única dos Trabalhadores), de movimentos sociais da Frente Brasil Popular e de partidos políticos.

A Polícia Militar não informou a estimativa de público oficial. De acordo com os manifestantes, por volta das 17h30 havia cerca de 300 pessoas.


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