A designer de interiores Angélica Duarte afirmou à Folha que trabalhou no começo de setembro de 2010 no sítio usado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a pedido da mulher de Fernando Bittar, sócio de um dos filhos de Lula e dono da propriedade rural no papel, o que indica a ligação deles com o imóvel bem antes do fim do segundo mandato de Lula.
Em setembro de 2010 Lula também estava em plena campanha eleitoral para levar sua colega de partido Dilma Rousseff ao Palácio do Planalto.
A defesa de Lula tem enfatizado que o ex-presidente só soube que Bittar comprou o sítio para uso compartilhado com a família dele em janeiro de 2011, após deixar a Presidência, portanto.
A força-tarefa da Operação Lava Jato investiga se Lula é o real dono da propriedade rural e se empreiteiras envolvidas no esquema de corrupção na Petrobras bancaram a reforma do imóvel.
Caso seja constatado que as construtoras financiaram as obras durante o mandato presidencial, Lula pode ser alvo de ação de improbidade administrativa. Uma das punições nesse tipo de ação judicial é a proibição de disputar eleições por até dez anos.
Como revelado pela Folha, fornecedores e testemunhas das obras afirmaram que os trabalhos foram pagos por um tipo de "consórcio" informal integrado pelas empresa Odebrecht, OAS e a Usina São Fernando, que pertence aos filhos do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo pessoal de Lula. Porém, as testemunham apontavam o início das obras em outubro de 2010.
A designer Angélica Duarte disse à reportagem que Lilian, mulher de Fernando Bittar, contratou-a no início de setembro de 2010 para fazer desenhos que retratassem a situação da área construída do sítio à época, que na linguagem técnica de arquitetura recebem a designação de "as built".
A designer disse que então fez uma visita de trabalho ao sítio na acompanhada pelo casal Bittar e entregou os desenhos em 30 de setembro de 2010. Ela disse recebeu pelo serviço cerca de R$1.500 por meio de depósito em conta bancária indicada a Lilian.
As plantas feitas por Angélica foram recolhidas pela Polícia Federal na diligência de busca e apreensão realizada na 24ª fase da Lava Jato, deflagrada no último dia 4.
AGENDA
Nas buscas no sítio a PF também encontrou outros papéis que relativos a setembro de 2010.
Entre eles estão agendas semanais de compromissos do então presidente de Lula e emails relativos a convites feitos à mulher de Lula, Marisa Letícia, para participação em eventos.
OUTRO LADO
O advogado do ex-presidente Lula, Cristiano Martins, afirmou que pessoas e familiares próximos ao petista podem ter visitado e participado de reformas do sítio em Atibaia (SP) em 2010, mas sem o conhecimento de Lula.
O defensor de Fernando Bittar, Alberto Toron, confirmou que o cliente dele e sua mulher, Lilian, contrataram a designer de interiores Angélica Duarte e diz que esse fato reforça que eles são os verdadeiros proprietário do imóvel.