Folha de S. Paulo


Planilhas ligam Cabral a propina da Odebrecht em obra do metrô do Rio

Carlos Magno - 26.fev.2014/Divulgação
O ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral em evento em 2014
O ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral em evento em 2014

Documentos que constam da Operação Lava Jato indicam que o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ) foi beneficiário de propina de R$ 2,5 milhões paga pela construtora Odebrecht. O valor estaria vinculado às obras da linha 4 do metrô do Rio.

O nome do ex-governador foi um dos que apareceram em planilhas apreendidas em fevereiro na casa de Benedicto Barbosa da Silva Júnior, funcionário da empreiteira, e divulgadas nesta quarta (23).

Na tabela em que aparece o nome de Cabral há também o codinome por que ele era identificado ("Proximus"), seu partido, a designação "Histórico" e o valor "500".

Esse mesmo codinome apareceu em outra planilha, mantida por Maria Lúcia Tavares, ex-secretária da Odebrecht que foi presa em fevereiro e fechou acordo de delação.

Na documentação, apreendida pela PF e tornada pública na terça (22), "Proximus" está ligado a valores relacionados à obra da linha 4 do metrô do Rio, que está sendo construída pela concessionária Rio Barra, que tem participação da Odebrecht.

A obra, prevista para ser inaugurada até a Olimpíada, ligará Ipanema (zona sul) à Barra da Tijuca (zona oeste) e foi iniciada em março de 2010, ainda no primeiro mandato de Sérgio Cabral como governador do Rio.

O documento em poder da secretária informa que R$ 2,5 milhões deveriam ser pagos a "Proximus" em cinco parcelas de R$ 500 mil. Em depoimento à Justiça, Maria Lúcia disse que as tabelas eram um controle da empresa para os pagamentos de propina e que não sabia a quem os codinomes se referiam.

De acordo com a PF, os pagamentos ilícitos eram lançados em requisições eletrônicas contendo o nome da obra, o superintendente responsável na Odebrecht e o beneficiário com o codinome.

Os depósitos a "Proximus" deveriam ser feitos em cinco datas de 2014: 16 de setembro –antes da eleição para o governo do Estado, vencida pelo candidato de Cabral, Luiz Fernando Pezão–, 24 e 29 de outubro (o segundo turno foi realizado no dia 26) e 12 e 13 de novembro.

O repasse seria levado até um escritório na Barra da Tijuca e entregue por funcionários do doleiro Álvaro Novis, 51, à economista Olívia Vieira, 48. As tabelas apreendidas sugerem que dois pagamentos teriam sido feitos a "Proximus". A PF investiga se o escritório pertence à Odebrecht ou se tem relação com a obra do metrô.

Conhecido como Carioquinha ou Paulistinha, o doleiro Novis, proprietário da Hoya Corretora, foi preso na terça (22).

De acordo com os investigadores, ele era responsável por disponibilizar valores determinados pela Odebrecht para pagamentos de propina no Rio e em São Paulo.

Olívia Vieira não retornou os telefonemas da Folha. A reportagem não encontrou os defensores de Novis. A concessionária responsável pela obra do metrô informou que não se pronunciaria por não ter sido notificada.

O ex-governador Sérgio Cabral divulgou nota em que nega as informações. "Todas as contribuições das campanhas eleitorais do ex-governador Sérgio Cabral foram de acordo com o que estabelece a lei", afirmou a sua assessoria.


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