Folha de S. Paulo


Relator do pedido de impeachment diz que não entrega cargos no governo

Relator do pedido de impeachment contra Dilma Rousseff, o deputado Jovair Arantes (PTB-GO), afirmou nesta segunda-feira (21) que não irá entregar os cargos federais que ele e a bancada do PTB controlam.

A principal área de influência de Jovair, que há vários anos lidera a bancada do PTB na Câmara, é a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). O presidente da companhia, Lineu Olímpio de Souza, e o diretor financeiro, Roberto Naves e Siqueira, são indicações do petebista.

Além disso, Jovair emplacou no comando da superintendência goiana do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia, autarquia federal vinculada ao Ministério do Desenvolvimento) o sobrinho Rogério Papalardo Arantes.

O Ministério do Desenvolvimento é comandado por Armando Monteiro, do PTB.

Diego Padgurschi/Folhapress
 O deputado Jovair Arantes durante primeira reunião da comissão especial que analisa o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff
O deputado Jovair Arantes (PTB-GO) durante primeira reunião da comissão que analisa o impeachment

"Isso [cargo] é um problema do governo, não vou discutir isso agora. Qualquer movimento que eu fizer está errado, certo? Qualquer movimento que eu fizer eu estou posicionando e eu não quero posicionar", disse Jovair.

Segundo o relator do impeachment de Dilma, "os dois lados", governo e bancada do PTB, foram respeitosos ao tratar do assunto. "Se eu entregar os cargos, algum cargo que possa ter, estou dizendo que estou contra [o governo]. Se eu disser que eu quero é novos cargos, eu estou dizendo que estou a favor, então não vou entrar nessa."

De acordo com aliados do governo e com pessoas próximas a ele, Jovair e o PTB têm influência sobre outros órgãos federais.

São citados a Casa da Moeda, a Susep (Superintendência de Seguros Privados), ligada ao Ministério da Fazenda, e uma vice-presidência da Caixa Econômica Federal.

Sobre os dois primeiros, Jovair disse que os indicados pela bancada do partido já deixaram o cargo. Sobre a Caixa, ele afirma que a nomeação de Rubens Rodrigues dos Santos para a vice-presidência de Operações Corporativas foi feita pelo PMDB, apesar de o executivo ter anteriormente presidido a Conab por indicação de Jovair.

O relator do impeachment é um dos principais aliados do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Aliados de Cunha e até integrantes do governo dão como certo que seu relatório será contrário a Dilma.

COMISSÃO

Nesta segunda, a comissão da Câmara que analisa o impeachment de Dilma teve a sua primeira reunião de trabalho.

A principal polêmica foi a inclusão, feita pelo presidente da Câmara, da delação do ex-líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral (ex-PT-MS), no pedido.

Cunha nega que tenha feito um aditamento, afirmando apenas que juntou documentos por solicitação de um dos autores do pedido, a advogada Janaina Paschoal.

A peça original do impeachment tinha como principal embasamento as supostas "pedaladas fiscais" do governo Dilma em 2014. O PT afirmou que se a delação de Delcídio –que acusa Dilma e o ex-presidente Lula de participação no petrolão– fizer parte da análise da comissão irá recorrer ao Supremo Tribunal Federal.

Cunha afirma que o PT está fazendo manobras para tentar atrasar o desfecho do processo. A presidente Dilma tem até dez sessões do plenário da Câmara para apresentar sua defesa. A desta segunda foi a segunda sessão.

Jovair Arantes apresentou o plano de trabalho para as próximas três semanas, com o depoimento, entre outros, dos autores do pedido de impeachment e de técnicos para falar das "pedaladas".

Segundo ele, não haverá "diligências ou oitivas de testemunhas voltadas à comprovação da veracidade dos fatos" porque essa tarefa caberia ao Senado.


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