Folha de S. Paulo


Escalada da crise deflagra discussão sobre governo Temer

A escalada da crise e do cerco político ao governo Dilma Rousseff (PT) conversas efetivas entre a cúpula da oposição e Michel Temer (PMDB) em torno de propostas que devem ser encampadas pelo vice, caso ele assuma o governo.

As discussões sobre o "dia seguinte" à possível queda da petista também já se dão em torno de nomes e perfis que integrariam a gestão Temer.

Em meio a esse debate, partidos como o PSDB, DEM e PPS começaram a dar declarações públicas de que darão suporte ao peemedebista no caso de haver o impeachment de Dilma, numa demonstração de que as discussões "subiram de patamar".

Quando fala sobre o cenário do impeachment, Temer começa todas as conversas com políticos de outras legendas garantindo que, uma vez à frente do Planalto, não será candidato à reeleição em 2018. Para dar robustez à promessa, foi aconselhado por aliados a, assim que chegar ao cargo, apresentar proposta de emenda à Constituição que acabe com a reeleição.

O vice tem se debruçado sobre essas e outras questões. A oposição tem uma lista de demandas. O PSDB quer que Temer adote parte das propostas pregadas pela sigla como carro-chefe de um eventual governo peemedebista.

Em troca, caciques do partido como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o senador José Serra (SP) e agora o próprio presidente da legenda, Aécio Neves (MG), prometem trabalhar para dar sustentação a Temer não só no Congresso, mas também na sociedade.

Nesta semana, Serra defendeu no Senado a ideia de que é preciso criar uma "frente de reconstrução nacional" do país em torno de Temer. "O impeachment virá. Vamos criar uma frente de reconstrução nacional com todos aqueles que concordarem com as políticas que devem ser implantadas pelo bem do país."

Procurado pela Folha, Aécio disse que o "PSDB terá grandeza e responsabilidade". "O processo [impeachment] agora é inexorável. Estamos dispostos a conversar em torno de uma agenda, não de cargos. Não é algo que vai beneficiar o partido, mas que é de interesse do país."

As propostas elencadas pelos tucanos incluem a profissionalização de agências reguladoras, novas regras para a gestão de estatais e fundos de pensão, além do compromisso com uma minirreforma eleitoral que contemple ao menos duas causas: a volta da cláusula de barreira e o fim das coligações proporcionais.

Os tucanos também têm dito que Temer dê "forte sinalização de que mudará o modo de governar" e que faça isso promovendo, de saída, um corte drástico no número de ministérios -hoje são 39. Isso, dizem aliados do vice, ele já estava convencido a fazer.

RECRUTAMENTO

Temer solicitou a aliados uma espécie de "mapa" da administração federal. O vice tem se mantido distante de Brasília, se abrigando em seu escritório em São Paulo para falar com aliados sobre os desdobramentos da crise. A palavra de ordem é discrição.

O contato pessoal tem sido capitaneado, muitas vezes, pelos conselheiros de Temer. Esse núcleo conta com ao menos três políticos que foram fieis ao vice, mesmo nos momentos de maior isolamento: Moreira Franco, Eliseu Padilha e Geddel Vieira Lima.

Em outra frente, há ainda o senador Romero Jucá (RR).Entre os tucanos, Serra é o mais próximo do vice. Ele conversa com Temer com frequência e passou a ser acionado por aliados do vice para dar palpites e sugerir mudanças em propostas lançadas pelo PMDB.

Agora, por exemplo, dá palpites no chamado "Plano Temer 2", documento que congregará propostas do PMDB para a área social.

Na seara jurídica e de análise da crise, destaca-se o ex-presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Nelson Jobim. Pela proximidade que tem como Temer, é visto como alguém que terá "papel de proa" em uma eventual gestão do peemedebista.

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O TIME DE TEMER
Quem são os aliados e possíveis nomes para uma equipe de governo

NO PMDB

  • GEDDEL VIEIRA LIMA Favorável ao desembarque do partido do governo Dilma, o ex-ministro da Integração Nacional dos anos Lula fala diariamente com o vice
  • ELISEU PADILHA Ex-ministro da Aviação Civil, foi o primeiro aliado de Temer a deixar o governo após a abertura do processo de impeachment de Dilma
  • MOREIRA FRANCO O antecessor de Eliseu Padilha na Aviação Civil também foi indicado por Temer para o cargo e é um dos principais interlocutores do vice
  • ROMERO JUCÁ Senador por Roraima, o recém-nomeado vice-presidente do PMDB é um dos que têm apontado o 'esfacelamento' da relação do partido com o PT

FORA DO PMDB

  • JOSÉ SERRA É o mais próximo de Temer entre os tucanos, sendo procurado por aliados para sugerir mudanças em propostas lançadas pelo PMDB
  • NELSON JOBIM Ex-ministro do STF, comandou a Defesa desde a gestão Lula e saiu do governo após desgastes com Dilma em 2011; seria um nome para a área jurídica

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