Folha de S. Paulo


Cardozo vazava operações da Lava Jato para Dilma, afirma Delcídio a revista

Pedro Ladeira - 26.mai.2015/Folhapress
Delcídio do Amaral, ex-líder do governo no Senado
Delcídio do Amaral, ex-líder do governo no Senado

O senador e ex-líder do governo no Senado Delcídio do Amaral (sem partido-MS) disse que o advogado-geral da União José Eduardo Cardozo vazou informações sobre fases da Operação Lava Jato, na época em que era ministro da Justiça, para a presidente Dilma Rousseff e outros interessados. A afirmação foi feita em entrevista à revista "Veja" publicada neste sábado (19).

Delcídio disse que Cardozo soube antes da condução coercitiva que teve o ex-presidente Lula como alvo, no último dia 4, e que "alertou os principais interessados", segundo a publicação.

Na entrevista, Delcídio afirmou que Cardozo, após tomar conhecimento sobre as operações, dizia: "Ventos frios sopram de Curitiba". De acordo com ele, quando queria tratar de temas de bastidores, o ministro mandava mensagens convidando-o para falar sobre a "questão indígena", tema latente no Mato Grosso do Sul.

Delcídio retomou na entrevista denúncias apresentadas em sua delação premiada e reafirmou que "Lula e Dilma tinham pleno conhecimento da corrupção na Petrobras".

Entre as denúncias retomadas, o senador declara que Lula comandava o petrolão, cujo esquema teria sido herdado pela presidente Dilma Rousseff –também beneficiada, uma vez que o esquema teria financiado suas campanhas. " A Dilma também sabia de tudo".

Segundo a revista, o senador disse querer se redimir com a sociedade auxiliando as autoridades a unir os pontos que faltam para expor o esquema de corrupção. "Errei, mas não roubei nem sou corrupto. Posso não ser santo, mas não sou bandido."

Ele também falou sobre as obstruções à Justiça que estariam sendo promovidas pelo governo: "Ele [Lula] e a presidente tentam de forma sistemática obstruir os trabalhos da Justiça, como ficou claro com a divulgação das conversas gravadas entre os dois".

Mas "nem sempre foi assim", afirmou Delcídio. "O Lula tinha a certeza de que a Dilma e o José Eduardo Cardozo tinham um acordo cujo objetivo era blindá-la contra as investigações."

A condenação dele seria a redenção dela, que poderia, então, posar de defensora do combate à corrupção. Enquanto isso, Lula "queria parecer solidário, mas estava mesmo era cuidando dos próprios interesses". O ex-presidente teria pedido a Delcídio que "procurasse e acalmasse o Nestor Cerveró, o José Carlos Bumlai e o Renato Duque".

A "Veja" informou que Delcídio, que se desfiliou do PT na última terça-feira (15), participou do ato contra o governo realizado no domingo (13), em São Paulo. Ele teria ido de moto à manifestação e não tirado o capacete, temendo ser reconhecido.

Delcídio, porém, cumpre acordo que o proíbe de frequentar locais de grande acesso público. O advogado de Delcídio, Adriano Bretas, nega que o senador tenha participado ou passado pelo ato.

OUTRO LADO

Em nota, Cardozo negou as acusações de Delcídio e disse que vai tomar "as medidas judiciais cabíveis, tanto em âmbito criminal, como civil, contra o senador, para que responda por suas declarações caluniosas e difamatórias".

Segundo o advogado-geral da União, a postura imparcial dele na Lava Jato foi reconhecida pelo próprio senador em sua delação premiada.

Para Cardozo, a entrevista à "Veja" demonstra "um claro desejo de vingança contra autoridades que não atuaram para impedir as investigações que culminaram com a prisão do senador".

O Palácio do Planalto classificou como "inverdades" e "absurdas" as acusações feitas por Delcídio.

Em nota, o governo afirma que o senador segue "estratégia de vingança" e inventa "estórias mirabolantes". Segundo o texto, a presidente determinou que sejam tomadas medidas judiciais contra o senador por calúnia e difamação.

"O senador volta novamente a fazer ataques mentirosos e sem qualquer base de realidade contra o governo federal", critica. "A administração federal reafirma que nunca interferiu nas investigações da Operação Lava Jato e nem criou obstáculos a seu livre desenvolvimento", acrescentou.


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