Folha de S. Paulo


Grupo pró-impeachment não vai desbloquear avenida Paulista

Lideranças do grupo que ocupa a avenida Paulista disseram na madrugada desta sexta-feira (18) que não vão deixar o local até o impeachment ou renúncia da presidente Dilma Rousseff.

Mais de cem pessoas se revezam desde a noite de quarta-feira (16) no local para impedir a retirada do acampamento com 32 barracas montadas em frente ao prédio da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Com isso, a via está interditada nos dois sentidos, entre as ruas Peixoto Gomide e Pamplona.

Nem mesmo a possibilidade de um confronto com outro grupo pró-Dilma que faz uma manifestação na tarde desta sexta na via, faz com que os acampados deixem o local. Eles acreditam que a Polícia Militar está trabalhando para manter a ordem e o protesto duplo ocorrerá de forma pacífica.

Para os líderes, o acampamento montado na avenida deve ser mantido pois é um símbolo nacional da resistência ao governo. "Várias capitais, inclusive Brasília aderiram ao movimento de forma espontânea", disse Bibiana Oliveira, uma das líderes do grupo acampado.

Apesar de se revezarem há duas noites no local, o grupo continuava animado gritando palavras de ordem, cantando o hino nacional e apitando. Entre as palavras de ordem estavam: "Lula cachaceiro cadê o meu dinheiro?, "Moro, Moro", " Fora PT, fora PT" e " Renúncia, renúncia".

Bandeiras pequenas do Brasil também foram colocadas como as de festas juninas para decorar a rua. Camelôs aproveitaram o grande número de pessoas reunidas para vender bebidas e lanches. Um pequeno grupo de motociclistas que entregam comida aproveitou para vender pizzas.

A todo momento os líderes do movimento se revezavam ao microfone para dizer palavras de ordem ou orientar como estavam se organizando.

Um deles, que não quis conversar com a reportagem da Folha, dizia para não jogarem lixo no chão e para deixarem os garis varrerem a rua. O grupo até afastava as barracas para que a via fosse limpa.

"Nós não vamos fazer igual petista, sujeira. Vamos dar o exemplo, sujeira é coisa de petista", disse.

paulista em disputa

PROTESTO

O motorista executivo bilíngue, Clayton Novaes, 34, e o ator Bruno Balestrero, 27 anos, ator, se conheceram na quarta nos protestos em frente à Fiesp. Desde então estão acampados.

"Só fui pra casa dormir um pouco e já voltei", disse Novaes, que mora em Santana. "Nós não sabemos de onde vieram as barracas. É de gente que quer ajudar a gente", disse Balestrero.

No final da madrugada, chegaram pães e salchichas para os manifestantes. Também doados.

"As pessoas querem ajudar. Mas não estamos ligados à nenhum movimento. Nem ao Vem pra Rua, nem a partidos. Disseram que a FIESP estava patrocinando a gente com almoço com filé mignon e isso não é verdade. Foi comida normal e não temos nada a ver com eles" disse Clayton.

Ontem a FIESP ofereceu refeição aos manifestantes. "Não somos ligados à ninguém. Nos conhecemos aqui. Queremos o impeachment ou a renúncia da Dilma, a prisão do Lula e o fim da corrupção ente os partidos", disse Clayton.

Sete pessoas da mesma família –três irmãs, marido, cunhado e dois primos– deixaram no final da noite de quinta (17) a cidade de Cotia (Grande SP) para protestar junto com o grupo que se reveza no acampamento na Paulista.

Com uma bandeira cobrindo o corpo para espantar o frio, a consultora de beleza Kelly Rebeca Dantas de Siqueira, disse animada que deixou pela segunda noite consecutiva os três filhos aos cuidados da mãe para participar.

"A gente não pode deixar tudo acabar em pizza, o que está acontecendo no Brasil é muita roubalheira", disse.

Para Kelly, a renúncia ou impeachment de Dilma é apenas o primeiro passo para mudança. " O alvo agora é a Dilma, não será uma vitória. Será uma batalha vencida, não uma guerra", falou.

A desempregada Welyan Dantas, irmã da consultora de beleza, disse que está desempregada há cinco anos e faz bicos para sustentar os três filhos.

Emocionada, Welyan conta que o filho caçula tem diabetes. Ela enfrenta muita dificuldade para controlar a doença dele porque não consegue insulina nem consultas em postos de saúde de Cotia, cidade onde mora.

"Estou aqui porque não aceito a situação que o Brasil está vivendo. Desde o governo Lula a saúde só piorou", falou.

A desempregada disse chorando que fica frustrada quando busca atendimento médico para ela ou o filho e não consegue.

Outra reclamação é que nunca consegue medicamentos no sistema público de saúde e, quando precisa, tem que deixar de comprar um alimento para adquirir o remédio. "Vou vir aqui todas as noites, até a Dilma sair", disse.


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