Folha de S. Paulo


Manifestantes anti-PT ocupam Paulista por mais de 24 h

Manifestantes anti-PT completaram nesta quinta-feira (17) mais de 24 horas na avenida Paulista, em São Paulo.

O estopim do protesto foi o anúncio da posse do ex-presidente Lula como ministro da Casa Civil, na quarta (16). Muitos afirmaram que só sairão da rua após a renúncia ou impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT).

A tática é inspirada no movimento Occupy ("ocupe"), que se alastrou por várias cidades dos EUA em 2011 e resultou em acampamentos em praças e avenidas, com temática anticapitalista.

Na Paulista, o clima é de festa na maior parte do tempo. E a relação com policiais, amistosa, com direito a fila para selfies.

Enrolados em bandeiras do Brasil para se proteger do frio, ao menos cem pessoas estavam reunidas por volta das 4h da manhã em frente ao prédio da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

A sede da federação –que à noite ganhou as cores verde e amarelo e as palavras "renúncia já" –foi o quartel-general dos manifestantes. De lá, saía o som do hino nacional e até almoço para alguns dos que passaram a noite protestando.

Lucas Lima/UOL/Folhapress
Prédio da Fiesp exibe mensagem pedindo a renúncia da presidente Dilma na av. Paulista, em São Paulo
Prédio da Fiesp exibe mensagem pedindo a renúncia da presidente Dilma na av. Paulista, em São Paulo

O ator e administrador de empresas Bruno Balestreiro, 27, relatou que cerca de dez pessoas almoçaram na entidade. "Cheguei às 23h de quarta e estou aqui até agora [às 17h de quinta]. A Fiesp viu essa situação e ofereceu almoço e banheiro para a gente", diz ele. A entidade diz ter servido apenas pessoas de movimentos ligados à federação.

A maioria dos manifestantes aderiu ao ato espontaneamente após saber do protesto pela TV ou redes sociais. Quando a Justiça suspendeu a nomeação de Lula como ministro, os manifestantes comemoraram como um gol.

Muitos saíam do trabalho e se juntavam aos grupo que, segundo a PM, chegou a 4.000 à tarde.

Houve quem só tenha ido para casa dormir e voltado. É o caso do professor Gilberto de Mattos, 51. "Moro perto, em Santa Cecília (centro). Saí daqui 0h30 e voltei às 11h."

Mattos vestiu a si mesmo e ao filho de oito anos com fardas militares. "Sou a favor de que as Forças Armadas conduzam um período de transição de cerca de um ano", justificou. Suas vestimentas eram exceção entre os manifestantes.

Já o eletricista Luís Cláudio Santos Augusto, 42, saiu de Franco da Rocha (Grande SP) para protestar na Paulista.

"Ontem saí do trabalho e vim direto. Hoje, estava de folga e voltei", disse ele, que confeccionou uma placa em homenagem ao juiz federal Sergio Moro, responsável pela Lava Jato.

Augusto afirma que pretende continuar indo à avenida enquanto o protesto prosseguir na avenida. "Minha intenção é também pedir licença do trabalho e ir para Brasília", disse.

A empresária Lidice Teixeira do Nascimento, 43, diz que só sai "quando a Dilma cair". "Vou acampar aqui, estamos trazendo barracas", afirmou.

No inicio da noite, ao menos 20 barracas foram montadas em frente à Fiesp.

Para o trabalhador da área de construção civil Natan Nascimento, nem a manifestação pró-PT marcada para o mesmo local nesta sexta-feira (18) será um problema. "A gente pode protestar no mesmo lugar sem desrespeito".

AGRESSÕES

Houve também alguns momentos de tensão. O secretário da Segurança Pública, Alexandre de Moraes, foi xingado de "fascista" quando dava entrevista e teve de deixar o local escoltado.

Os poucos dissidentes da opinião geral pró-impeachment (ou que aparentavam sê-lo) foram agredidos.

No fim da manhã, um rapaz vestido de vermelho foi agredido, acusado de ser "petista". Um casal de manifestantes tentou separar e também apanhou. Para protegê-los, a polícia os retirou da Paulista de camburão.

Mais tarde, um estudante de 17 anos passou pela avenida e gritou "não vai ter golpe". Acabou cercado e apanhou até a chegada da polícia.

Pouco antes da meia-noite, o líder do Revoltados Online, Marcello Reis, tentou convencer os acampados a deixarem a Paulista e foi agredido. Manifestantes jogaram garrafas e latas contra ele, que saiu escoltado pela polícia.

O ato oficial da Fiesp acabou por volta das 22h, mas manifestantes permaneceram em frente ao local.

Avener Prado/Folhapress
Marcello Reis, líder do grupo Revoltados Online é escoltado pela policia após se desentender com manifestantes
Marcello Reis, líder do grupo Revoltados Online, é escoltado pela policia após confusão

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