Folha de S. Paulo


Presidente do PT defende Lula em evento de intelectuais de esquerda

Jorge Araújo/Folhapress
Militantes e intelectuais de esquerda fazem ato no Tuca, muitas pessoas assistem pelo telão
Militantes e intelectuais de esquerda fazem ato no Tuca, muitas pessoas assistem pelo telão

O presidente nacional do PT, Rui Falcão, classificou como um exemplo de estado de exceção no país a divulgação do grampo de uma conversa entre o ex-presidente Lula e a presidente Dilma Rousseff.

A declaração foi feita durante um evento organizado por intelectuais de esquerda em São Paulo contrários à condução coercitiva de Lula no último dia 4.

"É um fato de extrema gravidade. O grampo e o vazamento do grampo de uma conversa sem nenhum significado. Isso comprova que há a criação de um estado de exceção dentro do estado de direito".

Para Falcão, a conversa divulgada não revela nenhuma atitude irregular. "A conversa só mostra que ela [Dilma] quer que ele [Lula] assine o termo de posse [da Casa Civil]. O resto é ilação", disse.

"Lula é o ministro da esperança pois organiza as energias do país. Só se revoltam aqueles que torcem pelo quanto pior melhor, contra um pais com menos desigualdade".

O ato em apoio a Lula já estava marcado para esta quarta-feira e conta com a presença de estudantes, ativistas e militantes de partidos políticos. São esperados ainda artistas, intelectuais, juristas e movimentos sociais.

Participaram o advogado Celso Antônio Bandeira de Mello, a filósofa Marilena Chauí e psicanalista Maria Rita Kehl, além do coordenador do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), Guilherme Boulos, e do escritor Gregório Duvivier, ambos colunistas da Folha.

João Pedro Stedile, líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), e Carina Vitral, presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), também compareceram.

O grupo protesta contra o que considera "arbitrariedades do Judiciário" e classifica a condução coercitiva de Lula como "ilegal".

"As diversas esferas do Poder Judiciário esmagam princípios e cláusulas pétreas, quando tomam a opinião pública (moldada pela grande mídia) como base para suas decisões", diz nota de divulgação do evento no Facebook.

O texto afirma ainda que o STF (Supremo Tribunal Federal) relativizou o princípio da presunção de inocência ao permitir a prisão de condenados em segunda instância e que o "Brasil vive um momento de golpismo" articulado pela "mídia tendenciosa que apoiou o Golpe de 1964".

O encontro é organizado pelo Centro Acadêmico 22 de Agosto, da Faculdade de Direito da PUC (Pontifícia Universidade Católica), de São Paulo, e pelo Fórum 21 no Tuca (Teatro da Universidade Católica de São Paulo).

Jorge Araújo/Folhapress
Militantes e intelectuais de esquerda fazem ato no Tuca; muitas pessoas assistem pelo telão
Militantes e intelectuais de esquerda fazem ato no Tuca; muitas pessoas assistem pelo telão

AMEAÇAS

O Tuca sofreu ameaças anônimas feitas por telefone nesta quarta. "Pessoas um pouco exaltadas ligaram para falar alguns absurdos e fazer ameaças", explica o diretor do teatro, Sérgio Rezende, 55. Segundo ele, foram pelo menos dez ligações, recebidas durante a tarde, com xingamentos e insinuações que diziam que o "pau iria comer".

Rezende afirma que a situação está sob controle e que não foi necessário avisar a polícia. Lembra, porém, que não é a primeira vez que o teatro é alvo de ameaças. "Faz parte do contexto [político]. O grande diferencial do Tuca é abrir o espaço para discussões", afirma.

PALCO DE MANIFESTAÇÕES

Em São Paulo, o TUCA é conhecido por ter abrigado algumas das mais importantes manifestações pela defesa da democracia, durante o período da ditadura militar (1964-1988).

Em 1977, o teatro sediou congresso da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) que pediu a reintegração às universidades brasileiras de cientistas e acadêmicos cassados pelo regime.

No mesmo ano, o TUCA foi invadido pela polícia sob o comando de Erasmo Dias, em encontro nacional do movimento estudantil. Na ocasião, a então reitora da PUC-SP, Nadir Kfouri, enfrentou o aparato de repressão e apresentou queixa-crime contra a invasão e danos causados ao local.

Ao fim do período militar, em 1984, o TUCA passou por incêndio que destruiu suas instalações. O incidente foi atribuído, à época, a uma falha elétrica, embora evidências apontassem que tenha sido criminoso. Até hoje, o teatro preserva nas paredes as marcas dessa história.


Endereço da página:

Links no texto: