Folha de S. Paulo


Com Lula, Planalto pode ter rotina com dois presidentes

Pedro Ladeira - 15.mar.16/Folhapress
BRASILIA, DF, BRASIL, 15-03-2016, 23h00: A presidente Dilma Rousseff e o ex presidente Lula são vistos no palácio da alvorada após reunião sobre a possível nomeação de Lula para um ministério. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)
Lula e Dilma após reunião no Palácio da Alvorada

"Dilminha, sobe!". A frase, dita em tom de piada, arrancava gargalhada de petistas que comemoravam o anúncio da ida de Luiz Inácio Lula da Silva para a Casa Civil quase cinco anos e três meses depois de deixar o posto de presidente.

No Palácio do Planalto, o gabinete que deverá ser ocupado pelo petista fica localizado no quarto andar, o último do prédio desenhado por Oscar Niemeyer. Já o da Presidência da República, onde despacha Dilma Rousseff, fica no terceiro.

Quando era presidente da República e Dilma, sua chefe da Casa Civil, Lula costumava chamar sua então ministra para seu gabinete, por telefone, dizendo: "Dilminha, desce". Agora, dizem petistas, o comando vai mudar. É "Dilminha, sobe!"

A brincadeira revela como os petistas enxergam a volta de Lula ao governo na era Dilma.

Apesar dos papéis invertidos, ele na condição de ministro e ela na de presidente, a avaliação e, principalmente, o desejo do PT é que o ex-presidente dê as cartas dentro do governo e seu gabinete passe a ser o mais importante do Planalto.

AUDIÊNCIA

Entre aliados de outros partidos, como o PMDB, o comentário era semelhante. Segundo eles, os pedidos de audiência a partir de agora vão ser concentrados no quarto andar, deixando de lado o terceiro onde está localizado o gabinete presidencial.

Segundo um peemedebista, seus colegas de partido já não gostavam de frequentar o terceiro andar por causa da fama de falta de traquejo político da presidente da República, mas não tinham outra saída.

"Agora, vamos direto para o quarto com todo prazer", afirma.

Assessores já apostam, porém, que o acesso ao quarto andar terá de contar com mais controle e segurança, em modelo semelhante ao do andar da presidente, onde o trânsito de pessoas é controlado e bastante restrito.

O deslocamento do eixo de poder dentro do Palácio do Planalto gerou outra piada no governo, de que o quarto andar também ganhará "status presidencial".

Por dentro do palácio

RAINHA DA INGLATERRA

Segundo assessores presidenciais, Dilma e Lula sabem que, agora, serão criticados pela entrada do ex-presidente no governo.

Primeiro, de que Lula está fugindo do juiz Sergio Moro. Segundo, que Dilma virou uma "rainha da Inglaterra" e que seu segundo mandato acabou no início do segundo ano.

Editoria de Arte/Folhapress

Estaria começando, agora, o terceiro mandato do ex-presidente Lula. Assessores presidenciais dizem que estas críticas foram levadas em consideração, mas são o preço a ser pago pelo benefício maior, escapar da abertura de um impeachment contra a presidente Dilma.

QUASE NUNCA ANTES

Casos de ex-presidentes ocupando cargos subordinados hierarquicamente ao chefe do Executivo são raros na história do Brasil.

Entre 1917 e 1918, o ex-presidente Nilo Peçanha foi ministro das Relações Exteriores no governo de Venceslau Brás. Enquanto esteve no cargo, o Brasil declarou guerra à Alemanha na 1ª Guerra Mundial. Peçanha foi presidente de 1909 a 1910.

Já Delfim Moreira, presidente entre 1918 e 1919, foi, após deixar o cargo, vice de seu sucessor, Epitácio Pessoa.

No exterior, o atual presidente da Rússia, Vladimir Putin, foi, após concluir seu primeiro mandato, primeiro-ministro de seu sucessor, Dmitri Medvedev.


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