Folha de S. Paulo


Bancoop fez pagamentos a firma investigada na Lava Jato

Marcelo Ferreira/CB/D.A. Press
Sede da Pepper em Brasília é alvo de busca e apreensão da Polícia Federal
Sede da Pepper em Brasília é alvo de busca e apreensão da Polícia Federal

Mesmo em ruína financeira, a Bancoop (Cooperativa Habitacional dos Bancários) fez pagamentos à Pepper Comunicação Interativa, agência de publicidade de Brasília investigada nas operações Acrônimo e Lava Jato, ambas da Polícia Federal.

Segundo dados da declaração de Imposto de Renda da agência, a cooperativa é descrita como "fonte pagadora" de R$ 40.800 para a Pepper, em 2011, e de R$ 20.400 no ano seguinte.

A Bancoop é investigada pela Promotoria de São Paulo por supostas irregularidades em empreendimentos imobiliários. Entre eles, está o prédio em Guarujá (SP) onde um tríplex reformado pela OAS chegou a ser reservado à família do ex-presidente Lula, que desistiu do imóvel.

A Pepper se tornou alvo da Lava Jato após executivos da Andrade Gutierrez relatarem em delação que a empreiteira pagou R$ 6,5 milhões no caixa dois da campanha presidencial de Dilma Rousseff em 2010 via um contrato fictício com a agência.

A Pepper também é investigada na Acrônimo, que apura desvio de dinheiro em contratos de empresas que tinham empréstimos no BNDES e ainda financiamento irregular de campanha.

A investigação apura se o atual governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), fez tráfico de influência no período em que era ministro do Desenvolvimento e presidente do Conselho de Administração do BNDES. A Pepper pagou faturas do cartão de crédito de Carolina Oliveira, mulher de Pimentel.

As declarações de IR da Pepper mostram também que a agência recebeu R$ 3,6 milhões saídos dos cofres do governo federal entre os anos entre 2008 e 2013.

De acordo com os documentos fiscais da agência de publicidade, a Secom (Secretaria de Comunicação) da Presidência da República fez três pagamentos que, juntos, somaram R$ 172.513. A Presidência pagou R$ 23.455, em 2008, R$ 75.578 em 2012 e mais R$ 73.480 em 2013.

Em dezembro de 2014, após a reeleição da presidente Dilma Rousseff, Felipe de Castilho Fonteles, sócio da Pepper, e a funcionária Catherine Alves reuniram-se com o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho.

A reunião, que aparece na agenda oficial do então ministro, tinha duração prevista de 1h15 e como pauta "preparatória para a cerimônia de posse da PR [presidente da República]".

A Presidência disse que a Pepper não foi contratada para prestar serviços na cerimônia de posse de Dilma e que a empresa nunca teve contrato direto com a Secom.

Em nota, disse que "os contratos da Secom são com agências regularmente licitadas" e que essas agências "para viabilizarem a produção de peças publicitárias criadas para a Secom, buscam no mercado fornecedores especializados".

Pagamentos por órgão - Em R$ mil

MINISTÉRIOS

Cinco ministérios também fizeram pagamentos à Pepper que totalizam R$ 3,1 milhões. O maior deles, de R$ 1,5 milhão entre 2011 e 2012, foi feito pela pasta da Saúde.

A agência recebeu recursos ainda do BNDES e da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), vinculados ao Ministério do Desenvolvimento, entre 2012 e 2013. A Apex pagou R$ 76.992 à Pepper e o BNDES, R$ 271 mil. Nesse período o ministro era Fernando Pimentel.

O Superior Tribunal de Justiça permitiu que a PF interrogue e eventualmente indicie o governador, que é um dos principais investigados na Acrônimo.

O PT, por meio de seus diretórios e comitês de campanha, também fez pagamentos à Pepper entre 2010 e 2013, que juntos somam R$ 15 milhões. O partido, segundo os dados da Receita, é o maior pagador da agência.

Em 2010, há registro de pagamento do comitê da campanha de Dilma no valor de R$ 6 milhões. Ainda em 2010, há o pagamento de R$ 120 mil do comitê de Pimentel. O Diretório Nacional do PT pagou à Pepper R$ 1,2 milhão em 2010. No ano seguinte, o partido repassou R$ 789 mil, além de R$ 4,8 milhões em 2012 e R$ 1,7 milhão em 2013.

Evolução entre 2008 e 2013 - Em R$ milhões

OUTRO LADO

A Bancoop e a Pepper não atenderam a Folha para falar sobre os repasses da cooperativa à agência. Por telefone, uma funcionária da Bancoop disse que não era do interesse da cooperativa responder as perguntas da reportagem. A assessoria da Pepper disse que não comenta "processo em andamento".

A defesa de Pimentel disse que ele "não teve influência em negócios da Pepper com o BNDES e a Apex e que sua esposa, Carolina, não trabalhou nesses contratos".

O BNDES disse que a Pepper venceu com menor preço concorrência para prestar serviços ao banco. Os ministérios citados pela reportagem e a Apex disseram não ter celebrado contratos diretamente com a Pepper e que repasses ocorreram devido a terceirizações realizadas por agências de publicidade prestadoras de serviços que, por sua vez, foram contratadas por meio de licitações.

O PT disse que seus contratos estão dentro da lei.


Endereço da página:

Links no texto: