Folha de S. Paulo


Análise

Pedido frágil joga lenha em todas as fogueiras

O pedido de prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva joga lenha simultaneamente nas duas fogueiras a arder no país hoje.

Por um lado, os defensores do petista e, por associação, da permanência de Dilma Rousseff no cargo, ganharam uma peça para acusar de pouco técnica e muito política. Por outro, aqueles inclinados a ir à rua protestar contra o governo no domingo (13) tiveram uma de suas demandas retóricas reforçada.

Sobre o primeiro grupo: a justificativa do pedido de prisão de Lula é mais uma declaração política de desgosto com o desprezo que o ex-presidente demonstra em relação às instituições que estão a investigá-lo. Juridicamente, é muito frágil.

Há vários motivos para investigar Lula no caso de suas "não-propriedades", e caberá à Justiça estabelecer se ele precisa ser detido para elucidar o que vem realmente evitando explicar. Nesse sentido, a denúncia apresentada pelo Ministério Público tem vários elementos sólidos.

Mas a justificativa apresentada no pedido de prisão anexado a ela se preocupa mais com a figura do ex-presidente e seu poder de influência, o que não é exatamente igual a destruir provas, por exemplo.

Isso para não falar com a indisposição apresentada pelos arroubos do petista sobre o destino que os investigadores deveriam dar ao processo, registrados num vídeo indiscreto por uma aliada desatenta no dia de seu depoimento à Lava Jato.

Politicamente, o segundo grupo ganha um empurrão a mais para o domingo. A pauta central dos protestos é o impedimento da presidente, mas a crítica generalizada a Lula e ao PT vem a reboque.

Lula, até por ser o fio condutor da história do PT no poder, é alvo óbvio –vide a fama do Pixuleko, o boneco com o petista vestido de presidiário. Naturalmente isso será tonificado pelo midiático pedido de prisão do MP paulista, cujo mérito pouco interessará aos manifestantes.

Um fator a ser analisado até o domingo é como reagirão as hostes petistas. Nesta quinta (10) havia um clima de refluxo na proposta de confrontar o ato anti-Dilma, com cancelamento do ato em São Paulo em favor de Lula. Se houver uma mudança no cenário, a tensão que parecia mais controlada tende a subir novamente.

Resumo da ópera, o pedido de prisão, independentemente de seu mérito, acabará levando o debate ao nível das redes sociais: quem é contra ficará mais contra, e quem é a favor, mais a favor.


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