Folha de S. Paulo


Lobista diz que propina a parlamentares por MP era 'boato'

O lobista Alexandre Paes dos Santos, preso durante as investigações da Operação Zelotes, afirmou nesta terça-feira (8) à Justiça Federal que as anotações feitas por ele sugerindo propina a três senadores tratavam de "boatos".

Em depoimento na ação penal na qual é acusado de compra de medidas provisórias do governo Lula, APS, como é conhecido, confirmou que fez a anotação, mas que se baseou em um boato e que nunca pagou esses valores.

Nas anotações em uma folha de papel, como reveladas pela Folha no domingo (6), lê-se o número "45" e, ao lado, as seguintes referências: "15 - GA"; "15 - RC"; e "15 - RJ". Um laudo anexado ao inquérito atesta que o conteúdo foi escrito pelo lobista, que está preso.

Investigadores suspeitam que se trate de pagamento de propina ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ao senador Romero Jucá (PMDB-RR) e ao ex-senador Gim Argello (PTB-DF).

APS disse no depoimento que se tratava de um boato que tinha ouvido em São Paulo, sobre a compra de emenda para a MP 512, que concedeu benefícios ao setor automotivo.

"Isso aqui foi o boato que eu ouvi em São Paulo e fiz a anotação. Estavam dizendo em São Paulo que teria que se pagar R$ 15 milhões para cada um dos parlamentares. É tão absurdo que eu até risquei aqui", afirmou.

Ele não explicou a origem do boato. "Ninguém pagou a esses parlamentares nada", disse.

De acordo com o lobista, ele foi avisar sobre o boato ao advogado José Ricardo da Silva, com quem trabalhava em parceria, e que o ex-servidor da Receita Federal João Gruginski teria ouvido também o relato.

Gruginski já afirmou em depoimento que tinha presenciado uma reunião em que APS relatava o pedido de propina.

SETOR AUTOMOTIVO

APS confirmou que ajudou José Ricardo em um trabalho de assessoria ao lobista Mauro Marcondes, para a aprovação de MPs do setor automotivo, mas ressalvou que não teve participação ativa nesse trabalho. APS disse que não recebeu honorários por esse trabalho e que a transferência feita por José Ricardo a ele deve-se à quitação de um empréstimo.

"Eu sou concorrente do Mauro, como vou me associar a ele?", afirmou.

Disse que trabalha como lobista em Brasília desde 1975 representando empresas e fazendo prospecção de planos do governo. "Se chama de lobby. É um trabalho de despachante engravatado", afirmou.

O lobista ainda se declarou "indignado" por estar preso há quatro meses sob acusações "que eu não participei".


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