Folha de S. Paulo


Sem-teto lançam manifesto e prometem radicalizar contra Dilma

Marlene Bergamo - 19.ago.2015/Folhapress
Guilherme Boulos, colunista da Folha e coordenador do MTST
Guilherme Boulos, colunista da Folha e coordenador do MTST

Enquanto enfrenta a ameaça crescente de impeachment e o aperto da Lava Jato, a presidente Dilma Rousseff sofrerá pressão maior da base do PT a partir dessa semana.

O MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) divulgará nesta segunda (7) um manifesto anunciando protestos, bloqueios de vias, novos acampamentos e ações em prédios públicos contra o governo Dilma.

O texto afirma que a petista tem encampado as reivindicações da elite, que não há mais expectativas de que ela faça uma guinada à esquerda e que, portanto, "as pautas da direita serão enfrentadas nas ruas, sem tréguas e com radicalidade".

"Iniciativas como a reforma da Previdência, a reforma fiscal, o acordo com o PSDB em relação ao pré-sal e a lei antiterrorismo são expressões de um governo que parece não ter mais limites na entrega de direitos sociais", afirma a declaração.

Ao lado de centrais sindicais, o MTST foi um dos movimentos que mais levou manifestantes ao ato contra o impeachment de Dilma, em dezembro.

Àquela altura, o movimento já criticava o ajuste fiscal promovido pelo governo, centrando fogo no ex-ministro Joaquim Levy (Fazenda), mas evitava ser mais duro com Dilma. Primeiramente, porque temia expô-la ainda mais à "direita pró-impeachment". Depois, porque tinha expectativa de que a petista ainda pudesse aderir a reformas "mais à esquerda" –o que não ocorreu.

"Por causa dessa guinada [à direita] o governo viu evaporar a sua base social. Ficou com o ônus e não recebeu o bônus. Perdeu a base, o rumo político e ainda assim ficou sem a dita governabilidade", diz o texto do MTST.

A onda de manifestações, prometida para março e abril, tem potencial para minar ainda mais a base social do governo. Os sem-teto pretendem conversar com outros movimentos sociais para engrossar os atos.

O mote adotado para sensibilizar sua própria base será o corte de investimentos no Minha Casa, Minha Vida, principal programa habitacional do governo federal.

"Em 2015, não houve praticamente nenhuma contratação do Minha Casa, Minha Vida faixa 1 [para as famílias mais pobres]", disse Guilherme Boulos, coordenador do MTST e colunista da Folha.

Parte da irritação do movimento deve-se ao fato de que em São Paulo uma das modalidades do Minha Casa é executada sob responsabilidade do MTST.

O grupo ganha o terreno da prefeitura, contrata a empresa que fará a construção das moradias e indica quais famílias irão receber as casas.

IMPEACHMENT E LULA

Apesar de ter endurecido o tom contra o governo, o MTST não vai aderir aos protestos pró-impeachment, como o marcado para domingo (13).

"Da nossa parte, não há nenhuma identidade com as manifestações da direita. Nós criticamos o governo Dilma pelos motivos opostos. Nesse sentido, não há possibilidade de junção com esses movimentos", disse Boulos.

A declaração que será divulgada também vai criticar a forma como está sendo conduzida a Operação Lava Jato, principalmente no tocante ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Porém, não vai entrar no mérito das acusações.

"Em nome do legítimo anseio de combate à corrupção, esta operação tem consolidado o abuso pelo Poder Judiciário em relação a garantias constitucionais –tal como na recente condução coercitiva do ex-presidente Lula sem qualquer intimação prévia."

E conclui: "A perseguição a Lula [...] tem também outro significado: simboliza o esgotamento da política de conciliação no Brasil".


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