Um apoiador do empresário João Doria na disputa interna do PSDB pela candidatura à Prefeitura de São Paulo afirmou, à Polícia Civil, que trabalhou transportando eleitores até os locais de votação no último domingo (28), quando o partido realizou a primeira etapa das prévias paulistanas.
A informação consta de boletim de ocorrência lavrado após uma confusão interromper a eleição no diretório do Tatuapé (zona leste de São Paulo).
O militante que assumiu na delegacia que estava transportando eleitores até o local de votação é Albino José Seriqueira, conhecido como Bininho, que fazia campanha para Doria. Ele falou com a polícia porque foi agredido por um morador da região durante a confusão que acabou encerrando a eleição no Tatuapé.
Bininho deu uma série de entrevistas sobre o que havia ocorrido e ganhou notoriedade por ter ficado com calças arriadas no meio da confusão.
Segundo o registro no B.O., Bininho disse à polícia que "participava da votação para escolha do candidato à Prefeitura de São Paulo pelo Diretório do PSDB - Tatuapé, levando e trazendo eleitores".
"Quando chegou no local dos fatos, a confusão já estava instalada", diz o documento. Bininho disse ter levado um soco no rosto durante a briga.
Doria vem sendo acusado pelos adversários nas prévias de ter comprado votos. Ele venceu a primeira fase das prévias e agora vai disputar o segundo turno contra o vereador Andrea Matarazzo.
Aliados de Matarazzo e Tripoli fizeram uma representação contra Doria por suposto abuso de poder econômico.
O empresário cresceu na disputa interna com o apoio do governador Geraldo Alckmin (PSDB). Questionado sobre as acusações de compra de votos, Alckmin saiu em defesa de Doria e disse que as alegações eram "ridículas".
Doria, por sua vez, nega qualquer irregularidade e disse que fez sua pré-campanha com base nas regras estabelecidas pelo PSDB paulistano.
Bruno Santos/Folhapress | ||
Empresário João Doria, durante prévia do PSDB |
CONFUSÃO
Os militantes prestaram depoimento porque a polícia foi acionada para conter o tumulto que se instalou no local de votação das prévias no Tatuapé. O boletim de ocorrência informa que as autoridades foram acionadas para conter uma "invasão por membros de uma facção criminosa" que tentavam, "mediante ameaça, impedir a votação de filiados do PSDB".
Moradores da região teriam reconhecido um dos três rapazes que invadiram a zona de votação. No B.O. ele só é identificado pelo apelido, Geleia.
A Folha reuniu informações com moradores no dia em que houve a confusão e cruzou os dados com o relato que consta do documento da Polícia Civil. Geleia seria um morador conhecido na área e foi descrito no B.O como integrante de uma facção criminosa.
Na ocasião, os moradores disseram que Geleia decidiu invadir o local após uma mesária, apoiadora do deputado Ricardo Tripoli, ser pressionada por aliados de Doria para retirar da ata de votação o registro de que o grupo do empresário estaria oferecendo cerveja e churrasco para atrair militantes.
Geleia não é militante do PSDB, mas conhece os moradores da região e acompanhava o processo de votação do lado de fora.
Pessoas que acompanharam a confusão disseram à reportagem que ele teria invadido o local para encerrar a discussão.
Segundo o relato registrado no B.O., Geleia determinou a dois jovens –aparentemente menores de idade– que danificassem as urnas e os computadores que estavam sendo usados.
Ele ainda teria agredido uma mulher com um soco no rosto e ameaçado outra militante do PSDB com um banco.
No dia da confusão, o deputado Ricardo Tripoli disse não reconhecer os autores da agressão e não estimular a violência.