Folha de S. Paulo


Trazido ao país por presos na Lava Jato, estaleiro enfrenta crise

Uma das maiores empresas de construção naval do mundo, a Keppel Fels, de Cingapura, foi trazida ao Brasil por dois empresários hoje presos pela Operação Lava Jato e se consolidou como uma das maiores fornecedoras da Petrobras, por meio do estaleiro Brasfels, em Angra dos Reis (RJ).

A subsidiária brasileira, porém, enfrenta hoje uma crise financeira, devido a atrasos nos pagamentos pela empresa de sondas Sete Brasil. No mês passado, demitiu pouco mais de mil empregados, de acordo com o sindicato dos metalúrgicos local.

A empresa presta serviço para a Petrobras desde a década de 1970, mas sua primeira grande encomenda com a estatal foi a sonda P-18, nos anos 1990, obtida com apoio do engenheiro Zwi Skornicki –preso na última fase da Lava Jato, sob suspeita de ser operador de propinas na estatal.

Em uma revista corporativa de 2007, a Fels diz que os dois principais executivos da empresa, Choo Chiao Beng e Tong Chong Heong, foram alertados por Skornicki das oportunidades de negócios geradas pela licitação das sondas P-18 e P-19.

Em 2000, a companhia decidiu se instalar no país, em parceria com a Pem Setal, de Augusto Mendonça, que foi preso pela Lava Jato em novembro de 2014 e já condenado.

Chamada de Fels Setal, a companhia ocupou as instalações do estaleiro Verolme, um dos maiores do país, que estava fechado por falta de encomendas.

Em 2002, em campanha eleitoral, o ex-presidente Lula gravou no estaleiro um filme prometendo que a Petrobras voltaria a construir plataformas no país. Dois anos depois, a Fels Setal pegava sua primeira grande encomenda, a plataforma P-51.

SETE BRASIL

Hoje, já sem a Setal, o estaleiro tem contratos para a construção de partes de três plataformas da Petrobras, mas seu principal cliente é a Sete Brasil: são US$ 4,9 bilhões para a entrega de seis sondas de perfuração –uma delas já quase concluída e outras duas com obras iniciadas.

Segundo informações do mercado, a empresa só recebeu até agora US$ 1,4 bilhão. O último pagamento foi feito no fim de 2014, o que levou à decisão de paralisar as obras em novembro de 2015.

Um mês depois, foram demitidos 500 trabalhadores. No início de fevereiro deste ano, outros mil perderam o emprego. A Folha apurou que a companhia cobra da Sete uma dívida de US$ 2 bilhões pelos gastos já incorridos no contrato.

No auge das encomendas, no fim dos anos 2000, o estaleiro chegou a ter 12 mil trabalhadores, diz o presidente do sindicato, Manoel Sales. Hoje, são cerca de 5.000.

Apontado por executivos do setor como o estaleiros mais eficiente do país, foi o último a sentir a crise que provocou milhares de demissões na indústria naval brasileira.

"Tememos que essa situação possa abalar novas encomendas e provocar novas demissões", diz Sales.


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