Folha de S. Paulo


'Eu não preciso ter popularidade', diz Cunha sobre rejeição de 76%

Ricardo Borges - 15.jan.2016/Folhapress
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), durante entrevista em seu escritório no Rio
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), durante entrevista em seu escritório no Rio

Com uma rejeição crescente entre a população brasileira, conforme dados da última pesquisa Datafolha divulgada nesta segunda-feira (29), o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou esta tarde que não precisa "ter popularidade".

"Eu não preciso ter popularidade. Diferente da presidente da República, que foi eleita pela maioria absoluta da população brasileira, fui eleito por um segmento do meu Estado. Não tenho que buscar popularidade. Tenho que buscar exercer o meu papel com correção no Parlamento", disse quando questionado sobre o resultado da pesquisa.

O levantamento apontou que 76% dos entrevistados defendem que Cunha renuncie à presidência da Câmara, enquanto apenas 12% avaliam que ele deveria permanecer no cargo.

"Tenho mandato de dois anos para cumprir [como presidente da Câmara]. Não tem recall de presidente da Câmara, como também não tem recall para presidente da República –o que aliás é até uma proposta boa, que podia ser debatida no futuro", ironizou.

Na pesquisa, os entrevistados também opinaram sobre eventual cassação do peemedebista. Para 78% dos ouvidos, Cunha deve perder o mandato de deputado federal, enquanto 8% se opõem à medida.

O peemedebista responde a um processo no Conselho de Ética da Casa, protocolado em outubro do ano passado. Devido a diversas manobras dele, de aliados e de sua defesa, o caso não passou sequer da primeira etapa, a fase de votação da admissibilidade do processo, cuja expectativa é que ocorra essa semana.

O Supremo Tribunal Federal deve iniciar o julgamento da acusação contra Cunha oferecida pela PGR (Procuradoria-Geral da República) por corrupção e lavagem de dinheiro na quarta (2). Hoje, os advogados do peemedebista entraram com duas petições pedindo o adiamento.

Segundo o deputado, o caso não seguiu o rito "normal", uma vez que "a convocação só ocorreu na sexta", para um julgamento na quarta seguinte. "Não é usual. Não dá tempo sequer de eles [advogados] despacharem memoriais para todos os ministros para fazerem valer sua posição. Não há nem tempo hábil para isso."

A defesa de Cunha também questiona o quórum do Supremo que, segundo Cunha não estará completo essa semana e o fato de haver agravos impetrados por ele ainda pendentes de julgamento. "O correto seria julgar os agravos em uma sessão e, sem seguida, se não forem providos, aí sim continuar. São circunstâncias processuais. Não podem dizer que alguém está querendo protelar absolutamente nada."

O presidente da Câmara voltou a dizer que não se preocupa com o fato de, eventualmente, tornar-se réu e que isso não vai interferir na condução dos seus trabalhos na Casa. "Meu próprio exemplo pessoal mostra que, se por acaso tornar réu, não significa a culpabilização de quem quer que seja. Aqui na Casa tem vários parlamentares réus", argumenta.

MINISTÉRIO DA JUSTIÇA

Questionado em entrevista nesta tarde, Cunha evitou comentar a saída de José Eduardo Cardozo do Ministério da Justiça. Afirmou, contudo, não acreditar que haverá mudanças na condução da Operação Lava Jato, na qual ele é investigado.

"Não acho que seja esse o objetivo. Cada um tem o seu caminho. Não acho que vai ser ministro A ou B que vai mudar o curso de algo que já está no estágio que está."


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