Folha de S. Paulo


Marqueteiro escondeu US$ 30 milhões que ganhou em Angola

O marqueteiro João Santana omitiu US$ 30 milhões que ganhou na campanha presidencial em Angola, ao tentar se explicar que não cometera nenhum crime ao remeter para o Brasil US$ 16 milhões em 2012.

Em maio do ano passado, quando a Folha revelou que Santana estava sob investigação da Polícia Federal em São Paulo sob suspeita de lavagem de dinheiro, o marqueteiro afirmou em um vídeo: "A campanha de Angola pagou US$ 20 milhões". Ao depor na PF na última quinta (24), o marqueteiro informou um novo valor: US$ 50 milhões.

A mulher do marqueteiro, que depôs na quarta (24) acrescentou detalhes aos valores recebidos. Disse que US$ 30 milhões foram pagos à empresa do casal, a Polis, e US$ 20 milhões por meio de caixa dois.

Quando a Folha revelou a investigação, Santana disse que não esconderia nada das autoridades. "Lamento que esteja no meio desse furacão, que pode me trazer, injustamente, graves prejuízos. Mas não vou fazer o papel de coitadinho. Farei o que sempre achei certo. Adotarei a transparência. Coloquei um endereço na internet com todos os detalhes e documentos dessa transação. Qualquer pessoa pode acessá-los nos endereços www.polispropaganda.com.br ou www.averdadesobreapolis.com.br".

A informação de que o marqueteiro omitiu que ganhara US$ 30 milhões a mais em Angola foi revelada pelo blog do jornalista Fernando Rodrigues.

CAIXA DOIS

A investigação em São Paulo começou antes das investigações da Operação Lava Jato sobre Santana, ainda não foi concluída, mas ambas compartilham a mesma suspeita: a de que empreiteiras podem ter pago ao marqueteiro no exterior por gastos de campanhas no Brasil.

Quando remeteu os US$ 16 milhões de Angola para o Brasil, em 2012, Santana atuava em três campanhas internacionais e uma no Brasil. São elas as de Hugo Chávez/Nicolas Maduro na Venezuela, José Eduardo dos Santos em Angola e Danilo Medina na República Dominicana. No plano doméstico, o marqueteiro dirigiu a campanha de Fernando Haddad (PT) para a Prefeitura de São Paulo.

Em depoimento à PF na última quarta (24), a mulher de Santana admitiu que recebeu por meio de caixa dois recursos da Odebrecht para a campanha na Venezuela (US$ 3 milhões) e de Angola (US$ 4,5 milhões). Os US$ 7,5 milhões foram depositados numa conta secreta na Suíça, aberta no banco Heritage, que não havia sido declarada por Santana às autoridades brasileiras.

Ainda segundo Mônica, a dívida da campanha na Venezuela foi paga pela Odebrecht e a de Angola, pelo lobista Zwi Skornicki, que representa os interesses do estaleiro Keppels, de Cingapura, no Brasil. Skornicki teria sido indicado por integrantes do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), segundo Mônica, referindo-se ao partido que está no poder naquele país desde 1974, quando venceu a guerra que travava contra Portugal.

A Polícia Federal vê com muita desconfiança a versão de que Santana só recebeu por trabalhos prestados no exterior.

Segundo os delegados Márcio Anselmo e Renata da Silva Rodrigues, o casal não apresentou um mísero e-mail para comprovar a versão que contaram.

Procurada, a defesa de Santana não havia se manifestado até agora sobre a omissão dos US$ 30 milhões na explicação do marqueteiro.

A OUTRA APURAÇÃO

A investigação em São Paulo em torno de Santana foi aberta a partir de um comunicado do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão que cuida do combate à lavagem de dinheiro. O conselho considerou "atípico" o internamento de US$ 16 milhões, o equivalente a R$ 33 milhões na época, por causa dos impostos elevadíssimos que Santana teve de pagar para trazer o dinheiro ao Brasil, de R$ 6,29 milhões. Os impostos correspondem a 20% do valor que ele trouxe legalmente ao Brasil.

No ano passado, quando a Folha revelou a investigação, Santana disse: "Trata-se de uma operação legal e totalmente transparente". Ainda de acordo com ele, dos US$ 20 milhões ganhos em Angola, US$ 4 milhões foram gastos naquela país pela equipe que cuidou da campanha presidencial.


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