Folha de S. Paulo


Lava Jato apura se repasses a Santana foram retribuição por contratos

AFP
Brazilian President Dilma Rousseff and former Brazilian President (2003-2011) Luiz Inacio Lula Da Silva's campaign publicist Joao Santana (R) is arrested upon his arrival in Sao Paulo, Brazil o February 23, 2016. Political consultant Santana was being investigated by the Brazilian justice for receiving payments outside the country which could come from Brazilian state-run oil company Petrobras' briberies. AFP PHOTO / STR ORG XMIT: BRA101
O marqueteiro João Santana ao ser preso

Os investigadores da Operação Lava Jato apuram a ligação entre os repasses a uma conta secreta do marqueteiro João Santana, antes e durante a campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff, e uma possível compensação paga por empreiteiras para levar contratos da Petrobras e também da Sete Brasil.

A Sete foi foi criada com dinheiro do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para a construção de navios-sondas para exploração do pré-sal.

Investigadores consideram pouco plausível que João Santana tenha usado a conta de sua offshore panamenha Shellbill no banco suíço Heritage apenas para esconder "caixa dois" (doação eleitoral não declarada).

A hipótese do "caixa dois" é a linha mestra da defesa do publicitário, como revelou a Folha, e foi defendida por sua mulher e sócia, Mônica, em depoimento à PF.

O elo aparente entre o propinoduto da Petrobras e a campanha de 2014 é o lobista Zwi Skornicki, ex-representante do estaleiro asiático Keppel Fels no Brasil.

Preso na segunda (22), Skornicki usou a offshore Deep Sea Oil para depositar US$ 4,5 milhões (R$ 18 milhões) em uma conta de Santana na Suíça entre setembro de 2013 e novembro de 2014.

A Keppel Fels assinou contratos para a construção de seis navios-sondas para o pré-sal. Foi o delator Pedro Barusco, ex-gerente de serviços da Petrobras, que apontou os primeiros pagamentos ilegais de Skornicki a dirigentes da estatal e também ao PT.

Segundo Barusco, o interlocutor dos repasses da Keppel Fels ao PT foi o tesoureiro afastado do partido João Vaccari Neto, que também está preso. O delator, porém, não soube detalhar como o lobista pagava ao partido.

A lacuna do depoimento de Barusco começou a ser preenchida com a minuta do contrato e o bilhete escrito por Mônica Moura a Skornicki, apreendidos em novembro de 2014 quando a casa do lobista foi alvo de busca e apreensão.

Os dados bancários enviados por autoridades americanas ao Brasil, revelando os pagamentos da Deep Sea Oil à offshore de Santana, completaram a narrativa das propinas ao PT, de acordo com investigadores da operação ouvidos pela reportagem.

O fato de Skornicki atuar para a Keppel Fels apenas no Brasil reforça a suspeita da Procuradoria que os pagamentos a Santana tenham origem nos contratos das sondas de perfuração.

A outra frente da investigação é a ligação entre Odebrecht e o marqueteiro do PT.

Fernando Migliaccio, executivo da empreiteira suspeito de operar as offshores do grupo, foi preso no dia 17 quando tentava encerrar contas na Suíça e retirar ativos de um cofre em Genebra.

A Odebrecht é alvo de investigação da Procuradoria suíça por suspeita de usar os bancos do país europeu para pagar propinas a dirigentes da Petrobras.

As offshores identificadas como caminho da propina receberam de subsidiárias da Odebrecht no exterior ao menos US$ 215 milhões entre 2006 e 2014. O destino da maior parte deste dinheiro ainda é um mistério para a Lava Jato.

Até agora, só há comprovação que US$ 16 milhões chegaram às contas de dirigentes da Petrobras na Suíça e outros US$ 3 milhões abasteceram a Shellbill, de João Santana.

OUTRO LADO

Quando indagado pela Folha sobre os pagamentos de Skornicki a João Santana, o advogado Diogo Malan, que defende o lobista preso, disse que não faria comentários sobre o caso. A Odebrecht afirma que colabora com as investigações da Lava Jato.


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