Folha de S. Paulo


João Santana sabia que dinheiro tinha 'origem espúria', diz delegado da PF

O publicitário João Santana e sua mulher, Mônica Moura, que tiveram prisão preventiva expedida nesta segunda-feira (22), na 23ª fase da Lava Jato, tinham conhecimento de que o dinheiro transferido para suas contas no exterior eram de "origem espúria", segundo a Polícia Federal. O casal está fora do país.

"O indício que a gente tem de que João Santana e Mônica sabiam da origem do dinheiro é que eles trataram especificamente no caso dos desvios do Zwi Skornicki com uma pessoa que era representante e operador de propina na Petrobras", disse o delegado Filipe Pace, em coletiva nesta segunda, pela manhã, em Curitiba.

De acordo com a PF, os depósitos eram feitos com base em contratos aos quais a Lava Jato teve acesso. "Eles tinham conhecimento da origem espúria do recurso até pelo método de utilização de contas no exterior para recebimento de recursos e celebração de contratos ideologicamente falsos."

Foram depositados por off-shores empregados no esquema da Odebrecht em lavagem de dinheiro e pagamentos de vantagens indevidas a funcionários da Petrobras US$ 3 milhões, de 2012 a 2013, para o publicitário, de acordo com o delegado.

Uma das pistas que levou à descoberta do esquema foi uma carta enviada por Mônica a Zwi Skornicki (apontado pela polícia como repassador de propinas em contratos da Petrobras) em abril de 2013, em que ela informa dados de sua conta e anexa um contrato que faz referência à off-shore Shellbill, que pertence ao casal e que recebeu depósitos.

Dias após receber depósitos, Santana adquiriu em São Paulo um apartamento de R$ 3 milhões. "Depois de dois depósitos em 2013, a gente identificou, com auxílio da Receita Federal, que João Santana adquiriu o apartamento. Tinha certa incongruência, porque ele não tinha movimentação financeira nas suas contas, parecia ser incompatível que ele, de fato, tenha pago aquele valor. Ele usou parte do dinheiro que recebeu da Odebrecht para adiquirir um imóvel no Brasil. Por todos os indícios apresentarem que esse dinheiro seja de origem espúria, a gente pediu o sequestro desse imóvel", disse o delegado.

ODEBRECHT

Para o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, as investigações revelam que, além de João Santana ter recebido dinheiro do esquema de corrupção, um grupo de funcionários da Odebrecht controlava pagamentos no exterior.

A construtora, segundo o procurador, agiu para tirar esse grupo do país. "Foi identificado indícios de que essa empresa vem sistematicamente retirando eles [funcionários] do alcance das autoridades brasileiras. Há indicativos de que a empresa, imediatamente após a deflagração da Lava Jato, transferiu funcionários para o exterior", disse.

Em um e-mail sigiloso de um desses funcionários, Fernando Migliaccio da Silva, a Polícia Federal identificou uma planilha de Excel que registrava despesas de financiamentos de campanhas eleitorais do PT de 2008 a 2012. O que chamou a atenção dos investigadores foi que, no nome do arquivo, havia a sigla MO, que a polícia afirma ser de Marcelo Odebrecht, presidente da empreiteira que está preso.

As siglas e os apelidos que aparecem na planilha são as mesmas usadas pelo executivo, segundo análise feita em seu celular. O termo "feira", por exemplo, se referia a João Santana. Foram identificados pagamentos ao publicitário em 2008, na eleição de El Salvador, e em 2010, no exterior, segundo a PF. Houve novo pedido nesta segunda de prisão para o executivo, indeferido pelo juiz Sergio Moro.

A 23ª fase da Lava Jato teve a maior apreensão de bens num único dia, desde o início da operação. Com Zwi Skornicki e sua família foram apreendidos, segundo a Polícia Federal, uma coleção de carros antigos, obras de arte e uma lancha. Em São Paulo, os agentes apreenderam "algo em torno de meio milhão de reais em espécie". O valor exato não foi divulgado pelos integrantes da força-tarefa.

OPERAÇÃO "ACARAJÉ"

A 23ª fase da Operação Lava Jato, intitulada "Acarajé", tem como alvo o publicitário João Santana, que encabeçou campanhas presidenciais petistas, e a empreiteira Odebrecht.

O Ministério Público Federal e a Polícia Federal encontraram transferências de US$ 7,5 milhões (R$ 30 milhões, em valores desta segunda) de investigados da Lava Jato para a conta da offshore Shellbill Finance S.A., controlada pelo marqueteiro João Santana e pela mulher e sócia dele, Mônica Moura. A offshore, baseada no Panamá, não foi declarada às autoridades brasileiras.

Deste montante, US$ 3 milhões foram pagos ao marqueteiro por meio das contas das offshores Klienfeld e Innovation Services, que são atribuídas pelos investigadores à Odebrecht, entre 13 de abril de 2012 e 08 de março de 2013. Para a Procuradoria, "pesam indicativos de que consiste em propina oriunda da Petrobras transferida aos publicitários em benefício do PT".

OS CLIENTES DE JOÃO SANTANA - Marqueteiro trabalhou em campanhas no Brasil e no exterior

Editoria de Arte/Folhapress

Em nota, a Odebrecht informou que "permanece à disposição das autoridades para colaborar, sempre que necessário". Segundo a empresa, "as equipes de polícia obtiveram todo auxílio da Odebrecht para o cumprimento" dos mandados de busca e apreensão emitidos pela Justiça Federal para os escritórios da empresa em São Paulo, Rio e Bahia. A Odebrecht informou ainda que Benedito Barbosa da Silva Júnior é diretor presidente da Construtora Norberto Odebrecht, e não vice-presidente de infraestrutura da Odebrecht Engenharia e Construção no Brasil, conforme havia sido apontado pela PF em relatório.


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