Folha de S. Paulo


Análise

Após 11 anos, publicitário estrela volta a ameaçar governo petista

Victor Moriyama/Folhapress/Pedro Ladeira/Folhapress
Os publicitários Duda Mendonça e João Santana, que trabalharam em campanhas presidenciais do PT
Os publicitários Duda Mendonça e João Santana, que trabalharam em campanhas presidenciais do PT

Uma década depois, um publicitário estrela volta a ameaçar um governo petista. Em 2005, Duda Mendonça assombrou o país ao confessar à CPI dos Correios que recebeu no exterior pela campanha de Luiz Inácio Lula da Silva de 2002, sem que os recursos fossem contabilizados. Lula balançou, mas ainda com reservas de popularidade e num momento de economia em início de recuperação, segurou-se no cargo. Duda acabou absolvido pelo STF.

Operação "Acarajé"
Deflagrada na manhã desta segunda-feira (22), a 23ª fase da Operação Lava Jato tem como alvo o publicitário João Santana e a empreiteira Odebrecht

Para Dilma Rousseff, a investida sobre João Santana é potencialmente mais desastrosa. O contexto econômico é ruinoso, e ela tem apenas fiapos de aceitação popular. O eventual comprometimento de seu marqueteiro e de sua campanha de 2014 com pagamentos ilegais, possivelmente por meio da Odebrecht, principal empresa envolvida no petrolão, seria o fim da linha. Seja via impeachment, até aqui visto como improvável, seja pela cassação pelo Tribunal Superior Eleitoral, alternativa que começa a ganhar força.

João Santana caiu rapidamente nas graças do PT em 2006, após a derrocada de Duda. Era visto como um publicitário discreto –até onde marqueteiros conseguem ser discretos, claro. Petistas se encantavam com o fato de ele gostar de discutir política, e não apenas peças de TV de apelo sentimentaloide, marca registrada do antecessor.

Na campanha de reeleição de Lula, apostou no enfado da população com a onda de denúncias do mensalão e venceu. Sua estratégia foi resumida num jingle cujo refrão "deixa o homem trabalhar" viralizou numa época em que isso ainda não ocorria toda semana.

Em 2010, teve sua campanha mais fácil: a eleição de Dilma praticamente se fez sozinha, na esteira da popularidade astronômica de Lula e de crescimento de mais de 7% do PIB.

Em 2014, no entanto, teve a grande derrapada. A aposta de minimizar a crise econômica e demonizar os adversários, principalmente Marina Silva, cobrou rapidamente a fatura. O símbolo, dessa vez, era a malfadada peça em que a comida sumiria do prato de uma família, em um hipotético governo Marina (assista abaixo).

João Santana, como Duda da década passada, teve tisnada sua imagem de Midas. Primeiro pelos erros na comunicação e agora, ao que tudo indica, por questionamentos sobre a maneira como recebeu seus recursos. O PT, que parece não conseguir encontrar um tesoureiro que não termine atrás das grades, agora precisa também mandar benzer seus publicitários.

Veja vídeo


Endereço da página:

Links no texto: