Folha de S. Paulo


Ex-presidente da Andrade Gutierrez volta a ser preso pela PF

Paulo Lisboa - 20.jun.15/Folhapress
Otávio Marques de Azevedo, ex-presidente da Andrade Gutierrez, quando foi preso em junho de 2015
Otávio Marques de Azevedo, ex-presidente da Andrade Gutierrez, quando foi preso em junho de 2015

O ex-presidente da Andrade Gutierrez Otávio Azevedo voltou a ser preso nesta quarta (10), desta vez por ordem de um juiz do Rio que cuida do caso de suposto pagamento de propina por empreiteiras na obra da usina nuclear Angra 3.

Azevedo havia sido transferido para o regime domiciliar pelo juiz Sergio Moro na sexta (5), após a Andrade Gutierrez fechar um acordo de delação no qual se compromete a revelar fatos supostamente ilícitos envolvendo a campanha de Dilma Rousseff (PT) de 2014 e suborno na construção de estádios da Copa, entre outros.

A empreiteira também se comprometeu a pagar R$ 1 bilhão em multa em um acordo de leniência, uma espécie de delação de empresas. É a maior multa já paga no âmbito da Lava Jato.

Além da prisão decretada pela Justiça do Paraná por acusações envolvendo propinas pagas em contratos com Petrobras, o ex-presidente do grupo Andrade Gutierrez tinha um segundo mandado de prisão, relacionado ao pagamento de suborno na construção da usina nuclear Angra 3.

As investigações sobre supostos desvios envolvendo a obra de Angra 3 estavam sob a jurisdição de Moro mas, por determinação do STF, o caso foi transferido para o Rio.

A nova prisão só foi possível, de acordo com especialistas ouvidos pela reportagem, porque o acordo de delação ainda não foi homologado pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo.

Se o STF já tivesse chancelado o acordo assinado com o Ministério Público, o juiz do Rio não poderia decretar nova prisão, já que a homologação tem o poder de suspender todas as medidas contra um réu ou suspeito.

A Folha apurou que, no acordo de delação, executivos da Andrade citaram o caso de Angra 3 e prometeram novas revelações sobre quem pagou propina para executivos da Eletronuclear e políticos. Um dos políticos citados no caso de Angra 3 é o do senador Edson Lobão (PMDB-MA), que foi ministro de Minas e Energia de Dilma Rousseff –ele nega envolvimento em irregularidades.

Dois especialistas ouvidos pela Folha disseram que a nova prisão poderia ter sido evitada se Moro tivesse comunicado ao juiz do Rio que iria libertar Azevedo devido ao acordo de delação.

A Folha apurou que o juiz do Paraná foi alertado sobre a existência de um mandado de prisão pendente contra Azevedo no Rio.

PRISÃO

O ex-presidente da Andrade Gutierrez foi preso em casa por volta das 17h desta quarta (10), e deve passar a noite na custódia da Polícia Federal de São Paulo.

Ele estava usando tornozeleira eletrônica desde a soltura, na sexta passada. Nesta quinta, Azevedo deverá ser transportado para um presídio no Rio de Janeiro.

A nova prisão foi decretada pelo juiz federal Marcelo da Costa Bretas, que julga o caso de pagamento de propina por empreiteiras a executivos da Eletronuclear.

Em e-mail enviado na tarde desta quarta à PF em São Paulo, o juiz diz que policiais se recusaram a cumprir o mandato no sábado (6) e determina "o imediato cumprimento do mandado judicial já referido".

O juiz afirma ainda que os policiais que se recusaram a cumprir sua ordem serão alvos de "medidas a serem tomadas oportunamente pelo indevido descumprimento de decisão judicial".

Procurado, o advogado da Andrade Gutierrez, Celso Vilardi, não foi localizado.


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