Folha de S. Paulo


Nova vice dos Correios suspende contrato com empreiteira rival

Os Correios suspenderam o recebimento do novo prédio de R$ 162 milhões para distribuição de cartas em Salvador (BA) após a chegada da nova vice-presidente da área, dona de uma empreiteira.

Andreia Mendonça, que assumiu a vice-presidência de serviços da estatal no fim do ano passado, é irmã do deputado federal Félix Mendonça (PDT-BA).

Andreia, que foi secretária municipal da Prefeitura de Salvador na gestão de ACM Neto (DEM), não é funcionária dos Correios e se manteve como sócia minoritária da Construtora MRM após assumir o cargo na estatal.

A construtora da família do deputado tem uma desavença histórica com outro grupo de empreiteiros da Bahia, o Andrade e Mendonça. E foi justamente um dos contratos desse grupo que os Correios resolveram rever após a chegada de Andreia.

Em 2014, os Correios assinaram contrato com a construtora OBE Engenharia para construção do novo centro de distribuição da empresa na Bahia. No acordo, a empreiteira faz a obra para uso dos Correios, que pagam aluguel por 15 anos como forma de compensação.

O prédio ficou pronto em dezembro de 2015, dentro do prazo. Foram feitas vistorias por técnicos dos Correios ao longo do mês para que a estatal pudesse ocupar o imóvel em janeiro. Segundo o advogado da OBE, Otaviano Valverde, a estatal tinha até 30 de dezembro para informar à empresa sobre qualquer inconformidade, o que não ocorreu.

Brizza Cavalcante-12.mai.2011/Agência Câmara
PODER Deputado Félix Mendonça Júnior (PDT-BA) em 12/05/2011, na Câmara ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
O deputado federal Félix Mendonça, irmão de Andreia e também dono da construtora

Não houve qualquer comunicação dos Correios até 15 de janeiro, quando estava prevista a entrega das chaves. Nesse dia, com Andreia já empossada, Valverde soube que os funcionários disseram que havia ordens para não receber o imóvel.

O advogado informou que enviou duas cartas pedindo explicações sobre o não recebimento do prédio. Em 4 de fevereiro, dois dias após a Folha pedir aos Correios explicações sobre o contrato, foi enviada carta da estatal à OBE.

No documento, é informado que a empresa não teria registro do imóvel na prefeitura e que havia problemas no Switch (equipamento necessário para implantar a rede de computadores). A carta da estatal reconhece que somente em 2 de fevereiro a OBE foi avisada que o problema no Switch era impeditivo para o recebimento do imóvel.

Valverde diz que o prédio está registrado desde novembro e que o problema do Switch, que já está em reparo, não é impeditivo para a entrada no imóvel. "É uma situação absurda", afirmou.
Além de manter o centro de distribuição dos Correios funcionando em local inadequado, uma área densamente povoada no bairro da Pituba, a estatal ainda corre o risco de ter que pagar pelo período em que não está usando o novo imóvel.

OUTRO LADO

Em resposta a questionamentos feitos pela reportagem em 2 de fevereiro, os Correios dizem que "o recebimento das chaves só pode ocorrer após a correção das não conformidades", citando o Switch e o cadastro do imóvel. Segundo a estatal, o próprio empreendedor diz que precisaria de "60 dias úteis para corrigir esta não conformidade".

Os Correios ressaltaram que a identificação dos problemas ocorreu "antes da posse de Andreia Mendonça como vice-presidente", que ela "não participa da gestão de nenhuma das empresas da qual é cotista, ou seja, não detém qualquer poder de representação ou comando" e que, assim, não há "conflito de interesses" para ela ocupar o cargo.


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