Folha de S. Paulo


Quintão diz que adesão a Picciani foi pedido de Temer; vice desmente

Alan Marques/Folhapress
O vice-presidente Michel Temer, deixa o seu gabinete localizado no prédio anexo ao Palácio do Planalto
O vice-presidente Temer, que negou ter pedido ao deputado Leonardo Quintão para retirar candidatura

Após anunciar a retirada de sua candidatura à liderança do PMDB na Câmara para apoiar Leonardo Picciani (RJ), o deputado Leonardo Quintão (MG) afirmou nesta sexta-feira (22) que o movimento foi feito a pedido do vice-presidente Michel Temer, que desmentiu quase que imediatamente o aliado.

Segundo Quintão, sua decisão foi tomada "a pedido de Michel Temer para trazer unidade ao partido". A tese do deputado é a de que o vice-presidente gostaria de, com o gesto, reabrir o diálogo com o diretório do PMDB no Rio de Janeiro, a fim de conseguir apoio à sua reeleição como presidente da sigla, em convenção marcada para março.

Por meio de sua assessoria, porém, Temer afirmou que Quintão telefonou para dizer que condicionaria o apoio a Picciani ao suporte à sua reeleição. O vice-presidente disse que "agradecia", mas "não era preciso", porque a questão do partido estava "bem equacionada".

Segundo Temer, Quintão deveria trabalhar pela unidade da bancada, mas "sem relacionar isso à questão nacional do PMDB".

Em seguida, ainda de acordo com a assessoria de Temer, Quintão telefonou mais uma vez para dizer que estava ao lado de Picciani e pediu que o vice conversasse com o deputado carioca. Picciani prometeu a Temer o apoio do Rio à sua reeleição e o vice repetiu que estava "tranquilo" e que "não era necessário".

Picciani e Quintão se reuniram nesta sexta em Juiz de Fora (MG) para selar o acordo em que o deputado mineiro retirou sua candidatura e declarou apoio ao atual líder do partido.

Picciani vai enfrentar agora apenas o deputado Hugo Motta (PB), lançado com a benção do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ). O movimento irritou Quintão que, inicialmente, era visto como o candidato que poderia vencer Picciani, como queria Cunha, mas o presidente da Câmara preferiu apoiar Motta.

Esta semana, como mostrou a Folha, ciente de que Picciani poderia perder a eleição marcada para fevereiro, o Palácio do Planalto decidiu abrir a porta para uma eventual composição com Motta, apesar de preferir a vitória do deputado carioca.

Motta esteve com dois ministros do núcleo próximo à presidente Dilma Rousseff para dizer que adotará "posição de neutralidade" caso fique com o cargo. Ele se reuniu com Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) e Edinho Silva (Comunicação Social) e espera retorno de Jaques Wagner (Casa Civil) e de Giles Azevedo (assessor especial da Presidência).

No aceno mais explícitos nesses encontros, Motta se comprometeu a, caso eleito, não indicar para a comissão especial do impeachment apenas deputados favoráveis ao afastamento de Dilma.

"A composição obedecerá a proporcionalidade da bancada do PMDB, que é eclética, com vários posicionamentos", disse Motta à Folha.

Cunha e Picciani eram aliados até o deputado decidir se alinhar ao Planalto, o que irritou o presidente da Câmara. A associação ao governo rendeu a Picciani a indicação de dois ministros no segundo mandato de Dilma.

A escolha de Motta, no entanto, foi calculada por Cunha para embaralhar a leitura do governo sobre a disputa dentro do PMDB —o que melindrou Quintão.

Apesar de aliado do presidente da Câmara, que é inimigo declarado do Planalto, Motta honrou acordos que fez com o PT e com o governo quando foi presidente da CPI da Petrobras, por exemplo.

Foi ele o responsável por pautar e, depois, enterrar a convocação do presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, à comissão.

Esse gesto deu a ele um "trunfo" nas conversas com integrantes da ala dilmista da sigla, que não podem acusá-lo de traição ou deslealdade.

O vínculo com duas alas do PMDB —a que apoia Cunha e a que apoia Dilma— será a pedra fundamental do discurso de Motta contra Picciani.


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