Folha de S. Paulo


'Tô precisando arrumar dinheiro', teria dito Eduardo Cunha a lobista

Depoimento de Fernando Baiano sobre Eduardo Cunha

O lobista Fernando Soares, o Baiano, afirmou ter ouvido do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ): "Tô precisando de arrumar dinheiro para a campanha". A conversa, que teria ocorrido entre 2010 e 2011, levou à ideia de "pressionar" o executivo Julio Camargo, o que resultou no pagamento de pelo menos R$ 5 milhões em propina para Cunha.

As declarações de Baiano constam de uma série de vídeo inéditos com depoimentos de alguns dos principais delatores da Operação Lava Jato, como Baiano, o empreiteiro Ricardo Pessoa e os entregadores de valores Carlos Alexandre de Souza Rocha e Rafael Angulo, que trabalhavam para o doleiro Alberto Youssef. Eles dão detalhes sobre as acusações que fizeram a diversos políticos com foro privilegiado no STF.

São as primeiras imagens que vêm a público desses delatores. São 108 horas de gravação, em 288 vídeos.

Veja todos os vídeos inéditos de delatores da Lava Jato

Baiano contou que Cunha aceitou pressionar Camargo para que ele pagasse propinas em atraso em torno da compra pela Petrobras de navios-sondas para a estatal.

"Nesse momento eu até falei para ele: 'Eduardo, o que eu conseguir receber, eu te dou 50%'", contou Baiano, segundo o vídeo. Cunha respondeu, de acordo com o delator, "que ele tinha tomado a decisão de fazer um requerimento [...] para pressionar o Julio". Segundo denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República), o requerimento foi elaborado por Cunha e subscrito pela deputada Solange Almeida (PMDB-RJ).

Nas eleições de 2012, segundo Baiano, Cunha voltou a dizer que precisava de dinheiro e passou a pressioná-lo para que "conseguisse receber do Julio o que estava em atraso". "Ele [Cunha] dizia: 'Pô, como é que tá o pagamento lá? Ano de campanha você sabe que qualquer dinheiro é importante'".

A essa altura, segundo Baiano, Camargo já havia pago ao parlamentar "alguma coisa em torno de uns R$ 4 milhões". O total, segundo o delator, foi de R$ 5 milhões.

Baiano também aparece, em outro vídeo, ironizando as explicações de Dilma de que nada sabia sobre os problemas que cercavam a compra da refinaria em Pasadena (EUA). Na época, ela presidia o conselho da Petrobras.

Depoimento de Fernando Baiano sobre Dilma Rousseff

Baiano contou ter falado sobre o assunto com o ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró.

"Ele me falou que esse material foi entregue a todos os conselheiros. Se alguém disse que não teve acesso é porque não leu o que foi entregue ou se deu o trabalho de ler [só] o resumo, que o resumo não tem tudo", disse.

OUTRO LADO

Eduardo Cunha negou diversas vezes recebimento de propina relativa à Petrobras.

Em nota de março de 2014, Dilma diz que o negócio de Pasadena foi fechado porque o conselho de administração da Petrobras recebeu informações "incompletas".

Depoimento de Fernando Baiano sobre José Carlos Bumlai


Endereço da página:

Links no texto: