Folha de S. Paulo


Dilma diz que não se pode 'tirar um presidente por não gostar dele'

Adriano Machado/Reuters
Brazil's President Dilma Rousseff attends a breakfast with journalists at the Planalto Palace in Brasilia, Brazil, January 15, 2016. REUTERS/Adriano Machado FOR EDITORIAL USE ONLY. NO RESALES. NO ARCHIVE. ORG XMIT: BSB102
A presidente Dilma Rousseff durante café com jornalistas nesta sexta (15)

A presidente Dilma Rousseff chamou de "golpistas" as tentativas de impeachment de seu mandato e argumentou que não se tira o chefe do Executivo do cargo por "não gostar" ou "não simpatizar" com ele.

A declaração foi feita nesta sexta-feira (15) em um novo encontro da presidente com jornalistas, no Palácio do Planalto. A entrevista foi condida a revistas, agências e sites de notícias.

Ela destacou que a democracia no país é "ainda jovem" e, por isso, a decisão de encerrar o mandato do presidente tem uma "repercussão política de longo prazo" na estabilidade do país.

"Não se pode no Brasil achar que você tira um presidente porque não está simpatizando com ele. Isso não é nem um pouco democrático", afirmou.

Ao apontar a relevância da discussão de uma reforma da Previdência no Congresso Nacional, Dilma emendou: "Isso não significa que eu esteja dizendo que as tentativas, que acredito que são golpistas de alguns segmentos da oposição, de repetirem sistematicamente essa questão do impeachment, não sejam importantes".

Na semana passada, em outro encontro com jornalistas, a presidente disse ter certeza de que foi "virada do avesso" pelas investigações em curso no país, como a Lava Jato.

Nesta sexta, por sua vez, afirmou que "não há nenhuma novidade" nos vazamentos de informações que citam seu nome na operação e que vai prestar todas as informações necessárias quando solicitadas.

"Eu, especialmente, responderei a qualquer coisa em quaisquer circunstância. As últimas [denúncias] que saíram [na imprensa] são repetições. Querem a informação? Eu dou até o calhamaço feito e todas as atas do Conselho da Petrobras", afirmou.

Esta semana, segundo o jornal "Valor Econômico", o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, que firmou acordo de delação premiada na Operação Lava Jato, alterou sua versão sobre o pagamento de propina em obra da refinaria de Pasadena e retirou menções a Dilma de seu depoimento: ele havia citado três vezes o nome da presidente quando falou sobre Pasadena, dizendo que ela "estava a par de tudo", mas, em seu depoimento, não fez nenhuma menção à petista.

REFORMA DA PREVIDÊNCIA

Questionada sobre o tema, Dilma voltou a defender mudanças na Previdência Social e disse que há certa "subestimação" da população em acreditar que os mecanismos de uma reforma sejam para tirar direitos dos trabalhadores.

"Uma reforma da Previdência, portanto, tem que ser necessariamente gradual, não pode chegar e querer impor regras. [...] Ao ser gradual, ela implica num período de transição, necessariamente", disse.

Dilma destacou que a expectativa de vida no país vem aumentando e, por isso, esse debate precisa ser feito. "Não é uma questão desse ou daquele governo, e muito menos uma questão que pode ser politizada, dada a importância dela para as futuras gerações."

PMDB

A presidente voltou a fazer afagos ao vice-presidente Michel Temer, com quem tem tido uma relação conturbada desde o ano passado –o peemedebista chegou a enviar uma carta a Dilma para dizer que se sentia um "vice decorativo" e que a presidente e o governo não confiavam nele nem no seu partido.

"O governo e eu, em específico, temos toda a consideração pelo presidente Temer. Para nós é muito importante uma relação de absoluto respeito, de proximidade, uma reflação fraterna com ele", afirmou Dilma.

A presidente disse ainda que o Palácio do planalto não interfere "sob nenhuma circunstância" nas questões internas do PMDB e de outros partidos. "Isso não é certo nem democrático", afirmou.

No entanto, nas últimas semanas auxiliares da presidente atuaram fortemente no processo de escolha do novo líder do PMDB na Câmara para que fosse eleito o deputado aliado ao Planalto e contrário ao impeachment, Leonardo Picciani (RJ).

O ministro Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo), por exemplo, chegou a oferecer a Secretaria de Aviação Civil para o deputado Mauro Lopes (PMDB-MG) para dividir a bancada peemedebista mineira e favorecer Picciani.

A avaliação no partido –e de Temer– era a de que somente a união dos deputados de Minas seria capaz de enfraquecer o deputado carioca. Lopes, no entanto, disse que quer o cargo e vai apoiar Picciani na eleição marcada para 3 de fevereiro.

PETROBRAS

A presidente foi questionada se o governo federal, diante da crise na Petrobras, pode capitalizar a estatal - e não refutou diretamente essa possibilidade.

Após fazer uma longa explanação sobre o fim do "superciclo das commodities", Dilma ponderou que o governo "sempre estará preocupado" com a Petrobras. "Principalmente quando os fatores que levam a essa situação são fatores exógenos a ela, que ela não controla", afirmou.

"O que nós faremos será em função do cenário nacional e internacional. Nós não descartamos que vai ser necessário fazer uma avaliação se esse processo continuar. Mas não somos nós, o governo brasileiro, que não descarta. Nenhum governo vai descartar. (...) Todo mundo vai olhar o que vai acontecer", disse.


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