Folha de S. Paulo


Investigados na Lava Jato relatam ameaças de operador de Cunha

Lula Marques - 28.abr.2010/Folhapress
BRASÍLIA, DF, BRASIL 28-04-2010 11h40: ONGs - A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das ONGs, no Senado Federal, ouve Lúcio Bolonha Funaro, corretor de câmbio que intermediou operações para dirigentes da Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop). Local: Sala 2 da Ala Nilo Coelho. Politica. Foto: Lula Marques / Folha imagem.
Lúcio Funaro, ao prestar depoimento à CPI da Petrobras sobre outra investigação, em 2010

Dois empresários investigados pela Operação Lava Jato afirmaram em depoimentos que foram ameaçados de morte por Lúcio Bolonha Funaro, apontado pela Procuradoria-Geral da República como "o operador" do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Os irmãos Milton e Salim Schahin, donos da empresa que leva o sobrenome da família, contaram aos procuradores que foram alvo de diversas ameaças.

Ambos diziam-se receosos em prestar esclarecimentos por medo das ofensivas do operador, registradas em boletins de ocorrência entregues aos investigadores.

Salim, que firmou acordo de delação admitindo participação no esquema de corrupção da Petrobras, contou que as ameaças chegavam por telefone ou mensagens.

"Que Funaro certa vez ligou para o depoente, dizendo que sabia onde o filho do depoente morava e onde o neto estudava [...]. Que escutou da própria boca dele que iria arrebentar o carro do [...] depoente e coisas do gênero", revela a transcrição dos relatos de Salim.

Funaro e os irmãos Schahin travam uma guerra desde 2008, ano em que ocorreu o rompimento da barragem de Apertadinho, em Rondônia, que deixou centenas de famílias desalojadas.

A Cebel (Centrais Elétricas de Belém), responsável pelo empreendimento, tinha Funaro como "representante de fato" e contratou um consórcio formado por Schahin e EIT Engenharia. O acidente deflagrou a batalha judicial sobre quem deve arcar com as consequências do rompimento.

Os registros dos depoimentos de Milton e Salim constam no despacho do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) que autorizou as busca e apreensões em imóveis de Eduardo Cunha, em dezembro. Funaro também foi objeto dos mandados, na ocasião.

Para os procuradores do Ministério Público, cabia a ele lavar o dinheiro oriundo dos ganhos ilícitos de Cunha.

A investigação mostrou ainda que Funaro pagava, direta ou indiretamente, despesas do amigo. Em contrapartida, segundo a Procuradoria, o deputado arregimentava políticos aliados para apresentarem requerimentos nas comissões da Câmara com o objetivo de pressionar a Schahin.

Os controladores da empresa, por sua vez, já admitiram que foram beneficiados em um contrato bilionário com a Petrobras, assinado para compensar uma dívida que o PT havia adquirido com o banco Schahin. O partido sempre negou irregularidades em suas contas.

SEM PERDÃO

Os procuradores ressaltaram, como mostra o documento assinado pelo ministro do STF Teori Zavascki, que os indícios de que a empresa foi vítima de pressão e ameaças não vai livrá-la dos crimes que praticou.

"Vale ressaltar, embora evidente, que as ilicitudes apontadas [...] não isentam o Grupo Schahin ou seus sócios de qualquer ilegalidade praticada", salienta a Procuradoria no despacho que embasou as buscas no ano passado.

OUTRO LADO

Funaro, por meio da assessoria de imprensa, negou que tenha feito qualquer ameaça aos irmãos Schahin e que tenha pagado despesas de Eduardo Cunha.

Funaro diz que os irmãos Schahin são réus confessos em esquemas de corrupção. E acrescenta que os requerimentos de deputados refletem preocupação legítima com a atuação da empresa.

O advogado de Eduardo Cunha, Alexandre José Garcia, afirma que seu cliente jamais atuou em favor de Funaro ou teve despesas pagas por ele. Diz ainda que Cunha não pode ser responsabilizado pela atividade de outros deputados, como apresentação de requerimentos.

A Folha não localizou os representantes da Schahin.


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