Folha de S. Paulo


Entregador de dinheiro diz ter ouvido de Youssef que Renan recebeu R$ 1 mi

Alan Marques - 2.dez.15/Folhapress
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), em sessão no plenário da Casa
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), em sessão no plenário da Casa

O entregador de valores Carlos Alexandre de Souza Rocha, 52, que assinou um acordo de delação premiada no STF, afirmou em depoimento ter ouvido do doleiro Alberto Youssef que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), foi destinatário de R$ 1 milhão entregue por ele em Maceió (AL).

Para essa entrega, Rocha contou ter viajado primeiro para Recife (PE), sob orientação de Youssef, onde procurou um homem que ele descreveu como "arrogante" e que seria dono de uma empresa de terraplenagem. O combinado, segundo Rocha, era pegar R$ 1 milhão em espécie e levá-lo a Maceió, mas o homem no Recife só repassou R$ 500 mil.

Ao saber que teria acesso a metade do valor combinado, Rocha disse ter telefonado para Youssef, que o orientou a aceitar a quantia e se dirigir a Maceió para fazer a entrega "urgente". Na capital alagoana, no lobby do hotel Meliá, Rocha esteve com um homem que descreveu como "elegante", com 35 ou 40 anos de idade, "alto, branco, magro, cabelo escuro, muito bem vestido, portando uma bolsa de couro a tiracolo". Rocha disse que já havia entregue dinheiro a esse homem em Curitiba (PR) em outra oportunidade.

Depois de concluir a primeira entrega, Rocha retornou ao Recife para receber os R$ 500 mil restante do mesmo "homem arrogante e nervoso". Depois de uma nova viagem e nova entrega em Maceió, Rocha retornou a São Paulo de avião.

Na capital paulista, ele procurou saber de Youssef a quem se destinara o R$ 1 milhão, e o doleiro, sempre segundo Rocha, "respondeu ao declarante em alto e bom som: 'O dinheiro era para Renan Calheiros'".

Segundo o delator, o "dinheiro em questão não era um repasse da [empreiteira] Camargo Corrêa para Renan", mas sim um recebimento de Youssef da empreiteira, "como pagamento de parte da dívida que a empreiteira tinha para com ele [doleiro] na época e usou o numerário para entregar, por alguma razão, o valor a Renan".

Rocha contou aos investigadores que aquela foi a segunda vez que ouviu falar em pagamentos ao atual presidente do Senado. Segundo ele, em ano que disse não se recordar com exatidão, mas que seria entre 2009 e 2014, "entre as CPIs da Petrobras", ele disse ter ouvido de Youssef que iria "disponibilizar R$ 2 milhões para Renan Calheiros a fim de evitar a instalação da CPI" no Congresso Nacional.

Rocha disse ter estranhado o fato e indagado a Youssef se Renan não era "da situação" –para o delator, não faria sentido pagar um apoiador da base aliada para evitar uma CPI. Segundo Rocha, o doleiro respondeu que "tem que ter dinheiro pra resolver". Rocha disse não saber se "efetivamente houve o repasse desse valor" ao senador.

OUTRO LADO

O advogado de Renan Calheiros, Eugênio Pacelli, disse à Folha nesta quarta-feira (30) que "tais declarações são de uma inconsistência absoluta, cuja narrativa sequer coloca o depoente em posição de testemunho", mas ressaltou que não teve acesso ainda ao depoimento do delator, e que o senador prestará esclarecimentos assim que isso ocorrer.


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