Folha de S. Paulo


Cunha é alvo de inquérito sobre uso do cargo para atrapalhar investigações

Alan Marques/Folhapress
Eduardo Cunha fala sobre a operação da Polícia Federal em entrevista coletiva no Salão Verde da Câmara, em Brasília (DF), nesta terça-feira
Cunha fala sobre a operação da PF em entrevista coletiva na Câmara, em Brasília (DF), nesta terça-feira

Alvo de dois inquéritos no STF (Supremo Tribunal Federal) por suspeita de envolvimento com a Lava Jato, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), junto a aliados, é objeto de uma terceira apuração, agora sobre o uso do cargo no Congresso para se beneficiar e atrapalhar as investigações do esquema de corrupção da Petrobras.

O inquérito é mantido sob sigilo no Supremo e motivou parte dos mandados de busca e apreensão autorizados nesta terça-feira (15) pelo Supremo e que envolveu integrantes da cúpula do PMDB.

Além de Cunha, são alvos do STF neste caso os ministros Henrique Eduardo Alves (Turismo) e Celso Pansera (Ciência e Tecnologia), além do ex-deputado Alexandre Santos e Nelson Bornier, prefeito de Nova Iguaçu (RJ).

Em relação a Pansera, ele foi acusado pelo doleiro Alberto Youssef, um dos delatores da Lava Jato, de ser "pau mandado" de Cunha e agir na CPI da Petrobras para intimidar sua família.

Apontado como outro aliado de Cunha, o ex-diretor da Caixa Econômica Federal Fábio Cleto é suspeito de usar a instituição a favor do presidente da Câmara. Cleto, que também foi alvo de buscas, foi exonerado do cargo há cinco dias, num gesto visto como retaliação do governo a Cunha, diante do avanço do processo de impeachment.

Na manhã desta terça, a PF realizou uma ação na residência oficial da Câmara por mais de cinco horas, na qual foram apreendidos documentos e três aparelhos de celular de Cunha. Houve ainda busca em endereços ligados ao deputado no Rio de Janeiro. Não houve pedido de prisão.

Segundo a Folha apurou, um dos objetivos da operação desta terça seria reunir elementos que possam reforçar uma eventual justificativa para afastar Cunha do comando da Câmara. Por isso, a apreensão do celular utilizado pelo peemedebista. A expectativa é de que possam ser encontradas mensagens que indiquem obstrução de seu processo de cassação no Conselho de Ética e ainda dos desdobramentos da Lava Jato.

O presidente da Câmara é acusado de ser beneficiado de desvios da Petrobras. Segundo dois delatores, ele teria recebido US$ 5 milhões em propina de contratos de navios-sondas. A Procuradoria já ofereceu denúncia ao STF neste caso contra Cunha. Há ainda um outro inquérito que investiga se um negócio fechado pela Petrobras na África teria abastecido contas no exterior mantidas pelo peemedebista e familiares na Suíça.

No caso da atuação de Cunha e aliados para se beneficiar, há suspeitas sobre vendas de emendas em medidas provisórias ou outras ações do mandato que podem ter resultado até mesmo no recebimento de propina.
Como o inquérito é sigiloso, não há detalhes ainda sobre as acusações sobre cada um deles.

OUTRO LADO

Indagado sobre a nova frente de investigações da PGR e da PF, Eduardo Cunha afirmou, no início da noite desta terça-feira (15), que já havia falado tudo o que julgava necessário sobre a Operação Catilinárias —ele deu uma curta entrevista na tarde de hoje no Salão Verde da Câmara— e disse que não iria fazer comentários sobre "um novo suposto inquérito".

Recomendou que a imprensa procurasse seus advogados que, contudo, não foram localizados para comentar o assunto.


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