Folha de S. Paulo


Chefe de gabinete preso com Delcídio era 'faz-tudo' do senador

Pedro Ladeira - 25.nov.15/Folhapress
Diogo Rodrigues, braço direito de Delcídio, é levado pela PF
Diogo Rodrigues, braço direito de Delcídio, é levado pela PF

Semanas atrás, num corredor do Senado, o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) provocou jornalistas. "Nesta pasta tem uma delação", disse, apontando para seu chefe de gabinete, Diogo Ferreira Rodrigues. Ele levava uma pasta com timbre do gabinete.

Os repórteres quiseram saber de quem era. "Não posso contar. Ainda está sob sigilo", respondeu, sem deixar claro se estava brincando ou não.

Tudo indica que não. Delcídio e Diogo foram presos no último dia 25 sob acusação de tentarem obstruir apurações da Lava Jato. O Ministério Público aponta que o senador ofereceu auxílio mensal de R$ 50 mil para não ser citado na delação do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró.

A cena com jornalistas mostra a confiança que Diogo gozava do chefe. Advogado, era o homem forte do senador e acabou sendo gravado em uma reunião na qual Delcídio discutia a mesada com o filho de Cerveró, Bernardo, e o advogado Edson Ribeiro.

Chamado de "ótimo profissional" e "afável" no Senado, Diogo é descrito como um "supergeneral" que cuidava de tudo no gabinete. Da agenda às questões legislativas. Quando alguém queria sondar algo de Delcídio, Diogo era a pessoa a ser procurada.

Servidor comissionado do Senado desde 2003, ele tem salário bruto de R$ 18,9 mil. Veio de Pernambuco para Brasília com seu pai, trazido pelo então senador pernambucano Carlos Wilson (1950-2009), que exerceu o cargo de 1995 a 2003. Hoje, o pai de Diogo trabalha com o líder do PT na Casa, Humberto Costa (PE).

A relação Delcídio-Diogo era como a de pai e filho, dizem servidores. Segundo interlocutores da família, o pai de Diogo brincava que tinha ciúmes do senador.

A família preparou uma recepção para ele com um bolo no dia 29, quando venceria o prazo de sua prisão temporária. Mas acabou frustrada com a conversão em prisão preventiva, sem prazo definido.

Investigadores consideram que Diogo não atuava só nos assuntos relativos ao mandato. Essa impressão foi reforçada após a busca e apreensão em seus endereços, onde foram encontradas cópias de trechos das delações premiadas do lobista Fernando Baiano e do ex-diretor Nestor Cerveró, ainda sigilosas.

Acharam ainda um manuscrito com nomes de ministros do Supremo que, para os investigadores, era o roteiro de Delcídio para fazer lobby pela soltura de Cerveró.

Na carceragem da PF em Brasília, Diogo está sozinho em uma cela. "Está tanquilo e sereno, otimista com sua soltura", afirmou seu advogado, Délio Lins e Silva Júnior.


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