Folha de S. Paulo


PSDB é base do impeachment, afirma Dilma; partido rebate

A presidente Dilma Rousseff disse nesta sexta-feira (11) que "não é nenhuma novidade" o PSDB ter fechado questão a favor do impeachment e argumentou que o pedido acatado pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), tem base da cúpula tucana. "Fica uma coisa um pouco hipócrita da nossa parte fingirmos que não sabemos disso", afirmou Dilma.

Durante reunião nesta quinta-feira (10), os seis governadores do PSDB e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso decidiram defender, ao lado das bancadas do partido na Câmara e no Senado, o impeachment da presidente.

Questionada por jornalistas sobre o fechamento de questão da legenda de Aécio Neves (PSDB-MG), seu adversário nas eleições de 2014, Dilma foi enfática ao dizer que não estava surpresa.

"Não é nenhuma novidade. Não é possível que os jornalistas aqui presentes tenham ficado surpreendidos. Aliás, a base do pedido e das propostas do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), é o PSDB, sempre foi. Ou alguém desconhece esse fato?", declarou após participar da cerimônia da 21a edição do prêmio Direitos Humanos, no Palácio do Planalto.

Alinhado à presidente, o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) disse que o PSDB, desde a vitória de Dilma, tenta "encontrar fatos para o impeachment" ao pedir a recontagem de votos logo após a eleição, por exemplo.

Sem citar nominalmente o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o ministro diz que "lamenta" ver "pessoas que ajudaram a construir a democracia" agora "abrirem mão de princípios" para defender um impeachment que, segundo ele, "não tem a menor base constitucional".

RESPOSTA

Em nota, PSDB rebateu as declarações e afirmou que "na base do impeachment não está um partido político mas a voz de milhões de brasileiros".

"A presidente da República equivoca-se mais uma vez ao transferir ao PSDB a responsabilidade exclusiva sobre o processo de impeachment", diz a nota. Presidido pelo senador Aécio Neves (MG), o partido alega que o processo de impedimento da petista que está em tramitação na Câmara dos Deputados tem fundamento. "

"Assinado, entre outros, pelo fundador de seu próprio partido, o PT, o respeitado jurista Hélio Bicudo, o pedido sustenta-se no cometimento de um crime de responsabilidade pela presidente. As pedaladas fiscais violaram a Constituição e se constituíram em mais uma ferramenta para enganar a população e vencer as eleições, já que serviram para esconder do país a real situação das contas públicas", diz a nota.

INTERFERÊNCIA NO PMDB

Nesta sexta (11), a presidente Dilma afirmou ainda que seu governo "não tem o menor interesse" em interferir no PMDB, partido do vice-presidente Michel Temer, mas que "lutará contra o impeachment".

"Entendo que ele [Temer] tenha considerações em relação ao PMDB, ele é presidente do partido. Então o governo não tem o menor interesse em interferir nem no PT, nem no PMDB, nem no PR. Agora, o governo lutará contra o impeachment. São coisas completamente distintas", disse.

Durante uma conversa entre Dilma e Temer na quarta-feira (9), o vice pediu que a presidente não atuasse em questões internas da sigla, como a liderança do PMDB na Câmara, de onde saiu Leonardo Picciani (RJ), alinhado ao Planalto, para a entrada de Leonardo Quintão (MG), com atuação de Temer e Cunha.

Nos bastidores, o Planalto atua para restituir Picciani no cargo, mas Dilma, publicamente, decidiu adotar o tom protocolar.


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