Folha de S. Paulo


Para Receita, patrimônio de filhos de Bumlai é suspeito

Alan Marques/Folhapress
O pecuarista José Carlos Bumlai, na CPI do BNDES
O pecuarista José Carlos Bumlai, na CPI do BNDES

Três dos quatro filhos do pecuarista José Carlos Bumlai, preso na Operação Lava Jato, somam R$ 166 milhões em patrimônio a descoberto, ou seja, sem renda suficiente para justificar o aumento dos bens.

As informações estão em um relatório da Receita feito a pedido da força-tarefa da Lava Jato. Segundo o documento, isso pode caracterizar "omissão de rendimentos de origem não conhecida".

No meio político, Bumlai é conhecido como amigo do ex-presidente Lula. Ele nega que seja tão próximo.

As conclusões da Receita ainda são preliminares. Os auditores destacam que é necessário aprofundar as investigações e checar os documentos das movimentações financeiras que resultaram no patrimônio de R$ 166 milhões.

O documento afirma que os fatos "resultam em dúvidas" e que algumas movimentações financeiras são "incompreensíveis".

A defesa da família informou que todas as operações são legais e foram regularmente declaradas à Receita. Segundo os advogados, não houve aumento patrimonial a descoberto, pois a venda de uma fazenda pelos Bumlai justifica o ganho de capital.

Foram analisadas as declarações de renda de Maurício, Cristiane e Fernando Bumlai. O pecuarista ainda tem um quarto filho, Guilherme Bumlai, que não foi contemplado neste relatório. São eles que administram o patrimônio da família atualmente.

Mais da metade dos valores a descoberto (R$ 130 milhões) está em nome de Maurício Bumlai, o filho mais velho do pecuarista, cujo patrimônio saiu de R$ 3,8 milhões em 2004 para R$ 273 milhões em 2012 (um aumento de mais de 7.000%).

Ele justificou o aumento com a venda de propriedades e com o resultado da atividade rural da família. Para a Receita Federal, o "expressivo" resultado dessa atividade tem "origem suspeita", já que não se assemelha ao padrão declarado pelos demais membros da família.

"Há devida necessidade de comprovação da origem das receitas com documentação hábil e idônea", escreve o auditor fiscal Roberto Leonel de Oliveira Lima.

No caso dos outros irmãos, a variação patrimonial é menor. Fernando Bumlai, segundo o relatório, tem R$ 15 milhões em patrimônio a descoberto, entre 2011 e 2012. Para Cristiane Bumlai, são R$ 21 milhões, em 2012 e 2013.

Uma das operações analisadas pela Receita foi a venda da Fazenda Cristo Redentor, em 2012, para o BTG Pactual, por R$ 195 milhões.

A transação, tida como suspeita pelos fiscais, foi mencionada pela Procuradoria-Geral da República no pedido de prisão preventiva do banqueiro André Esteves, dono do BTG.

O relatório da Receita Federal estranha a movimentação da conta de Maurício Bumlai no banco: foram creditados a ele R$ 42 milhões, mas os débitos na mesma conta somam R$ 142 milhões.

"Poderia ser novo empréstimo, poderia ser valor aplicado anteriormente e não declarado, ou a operação imobiliária não correspondeu de fato ao valor escriturado", escreve o auditor fiscal Roberto Leonel de Oliveira Lima.

PRISÃO

O Ministério Público Federal chegou a pedir a prisão temporária de Guilherme e Maurício Bumlai, sob o argumento de que, por administrarem as empresas da família, eles teriam participação no suposto esquema de corrupção pelo qual Bumlai é investigado.

O pedido foi negado pelo juiz federal Sergio Moro, de Curitiba, responsável pela Operação Lava Jato.

Moro entendeu que não havia referência à participação dos filhos de Bumlai "nas negociações criminosas ou fraudulentas".

OUTRO LADO

Procurada pela Folha, a defesa da família Bumlai informou que as operações financeiras são regulares e sustentou que não houve aumento de patrimônio.

Segundo nota assinada pelo advogado Damián Vilutis, o relatório dos auditores desconsiderou que a venda da fazenda Cristo Redentor, então o principal patrimônio da família, gerou ganhos de capital que foram declarados pelos filhos de José Carlos Bumlai.
Dívidas existentes à época também não foram computadas, segundo a defesa.

O advogado ainda afirma que o relatório não aponta irregularidades, "limitando-se a sugerir que os fatos merecem aprofundamento da investigação".

"Todas as operações foram regularmente declaradas à Receita e nunca houve qualquer tipo de questionamento", escreveu Vilutis. Para ele, a investigação comprovará a sua regularidade.


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