Folha de S. Paulo


Assessor de Delcídio diz que advogado de Cerveró esperava ser remunerado

Deflagrada nesta quarta-feira (25) pela PGR (Procuradoria Geral da República) e pela Polícia Federal por ordem do STF, a operação que prendeu o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) levantou indícios de que o advogado de um dos delatores da Operação Lava Jato esperava receber dinheiro do parlamentar e da Petrobras.

Também foram encontrados indícios de que o senador jantou com um dos delatores da Operação Lava Jato, Julio Camargo, em abril de 2015, meses depois de o empresário ter fechado seu acordo de delação premiada com a Lava Jato.

Delcídio foi preso por ordem do STF (Supremo Tribunal Federal) por suspeita de obstruir a Justiça ao tentar impedir que o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró o incriminasse em uma delação premiada que estava em negociação com o Ministério Público Federal –ela foi fechada no último dia 18.

A Folha apurou que diversas anotações foram apreendidas em poder do assessor parlamentar Diogo Ferreira Rodrigues, identificado pela PGR como chefe de gabinete do senador e que também foi preso nesta quarta-feira (25). Ele trabalha com o senador desde 2002.

Em depoimento, Rodrigues afirmou que uma anotação de R$ 100 mil, associada ao nome do advogado Edson Ribeiro, significava um oferecimento de serviços advocatícios do profissional ao senador. Rodrigues não confirmou se o dinheiro foi pago.

Edson Ribeiro é o advogado de Cerveró na Lava Jato e, em uma gravação feita pelo filho do ex-diretor, Bernardo, aparece combinando com Delcídio uma forma de tentar silenciar Cerveró, segundo a investigação.

A PF encontrou em poder de Rodrigues outras três anotações de valores: R$ 147 mil, R$ 600 mil e R$ 500 mil. Segundo Rodrigues, são referências a três notas fiscais de suposta prestação de serviços advocatícios cujos valores o advogado Ribeiro esperava receber de uma seguradora vinculada à Petrobras, não identificada.

Rodrigues afirmou que o advogado havia pedido que o senador fizesse gestões para ele receber esses valores.

Rodrigues também reconheceu, no depoimento, que recebeu a tarefa de Delcídio para acompanhar o andamento de um habeas corpus, de número 130.995, que segundo ele tinha por objetivo anular a delação premiada fechada por outro ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, com a Operação Lava Jato. A possível anulação da delação por meio desse habeas corpus também foi foco de conversa gravada pelo filho de Cerveró.

A Polícia Federal também encontrou com Rodrigues cópias de supostos termos de depoimento prestados por Cerveró no acordo de delação premiada que estava em gestação. O assessor afirmou que o advogado Edson Ribeiro entregou ao parlamentar, há cerca de três meses, anexos da colaboração. Para o assessor, o objetivo de Ribeiro era demonstrar que tinha informações importantes e que precisava ser contratado pelo senador.

Também foram apreendidos papéis, em poder de Rodrigues, com os nomes do senador Renan Calheiros e do banqueiro André Esteves, outro que foi preso nesta quarta-feira.

Segundo Rodrigues, ele foi orientado por Delcídio a falar com Renan sobre emendas parlamentares, mas não esclareceu quais emendas seriam essas, qual o propósito da conversa e porque estavam relacionadas ao nome de Esteves.

A Folha apurou que o depoimento de Rodrigues foi prestado na presença do delegado da PF Felipe de Alcântara Barros Leal e da procuradora da República Anna Carolina Resende Maia, que representava a PGR.

PRISÃO

Delcídio teve a prisão decretada pelo relator dos processos da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, o ministro Teori Zvascki, por suspeita de tentar atrapalhar as investigações sobre o escândalo de corrupção na Petrobras.

Segundo Zavascki, ele ofereceu de uma "mesada" de pelo menos R$ 50 mil para que o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró não fechasse acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República e chegou a tratar de uma eventual rota de fuga do ex-diretor caso a Justiça concedesse um habeas corpus a ele.

Uma sessão da Segunda Turma do STF, em reunião extraordinária, manteve a prisão do petista.

O senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) afirmou, pelo Twitter, que a bancada do Democratas irá votar pela manutenção da prisão do petista. "Não cabe a esta Casa contestar decisão num momento tão grave e que abala o Senado Federal. É importante também que o PT se pronuncie", afirmou.

Os principais partidos de oposição ao governo federal ainda pretendem utilizar a prisão do líder do governo como argumento para a necessidade de afastamento de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) da presidência da Câmara dos Deputados.

Plano de fuga


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