Folha de S. Paulo


Acampado no gramado do Congresso há um mês, grupo cobra impeachment

Acampados há quase um mês no gramado em frente ao Congresso –com autorização do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ)–, um grupo pró-impeachment da presidente Dilma Rousseff diz sobreviver de doações.

Vivendo à base de churrasco, arroz com carne moída e linguiça e muito pão com mortadela, os acampados articulam mobilizações pelo país e programam para este domingo (15) mais um ato.

O acampamento, que começou com nove pessoas do MBL (Movimento Brasil Livre) em 21 de outubro, ganhou adeptos e saltou para mais de 70 barracas. Algumas ficam desocupadas, ou vazias.

Segundo os participantes, as barracas ficam vazias porque o grupo faz revezamento. "Muitas pessoas de Brasília nos apoiam e dão suporte. Então há um constante vai e vem, para ir na casa dessas pessoas para tomar banho, já que aqui não existe local para isso", disse Igor Iuan, 28 anos, músico de Curitiba.

Ricardo Honorato, 56 anos, aposentado, admite que não passa a noite no acampamento, mas diz que comparece todos os dias das 7h às 23h. Há moradores de Brasília que passam parte do dia no local.

Segundo os acampados, tendas, mesas, bancos, isopores, gelo, churrasqueiras, comida, bebida, banheiros químicos e mesmo as barracas são frutos de doações.

"Lançamos em grupos de WhatsApp [aplicativo para trocas de mensagens via celular] que precisamos de dinheiro e conseguimos arrecadar fundos para comprar o necessário", disse Honorato. "A população de Brasília tem trazido muita comida. Tanta que às vezes precisarmos pedir para darem um tempo por alguns dias."

Uma das principais auxiliares do grupo é Maria Lúcia Bicudo, filha do ex-deputado Hélio Bicudo, coautor de um dos pedidos de impeachment apresentados à Câmara neste ano. Moradora de Brasília, ela fornece mantimentos e leva manifestantes para tomar banho em sua casa às vezes.

Os primeiros dias, dizem os acampados, foram mais movimentados. Muitos paravam para conversar, tirar fotos. Passado quase um mês, a diversão do grupo agora é criar paródias com desafetos.

Investigado na Operação Lava Jato e suspeito de manter contas secretas no exterior, Cunha costuma ser preservado pelo grupo. Mas já ganhou uma música especial: "Ou derruba a Dilma agora, ou derrubamos você. Eu quero a Dilma fora e o Lula no xadrez".

Cabe ao peemedebista decidir se dá andamento aos pedidos de impeachment na Câmara. Ele disse que faria isso em novembro, mas, com o distanciamento anunciado pelo PSDB, aliados acham pouco provável que ele se arrisque num embate com o governo, ainda mais agora que é alvo de um pedido de cassação.

Para permitir a permanência do acampamento, Cunha passou por cima de norma conjunta de 2001 da Câmara e do Senado, que proíbe qualquer tipo de instalação nas imediações do Congresso.

Ele autorizou a permanência do grupo no local sob o argumento de que ele não representa nenhuma ameaça.

Na sexta (13), a presença dos acampados gerou um princípio de tumulto quando milhares de manifestantes contrários ao impeachment –e favoráveis à cassação de Cunha– passaram pelo local.

Um homem fardado que disse defender intervenção militar discutiu com alguns que passavam e faixas anti-Dilma foram rasgadas, mas ninguém se feriu. Na quinta (12), um homem foi detido com uma arma de fogo e várias armas brancas escondidas no carro. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, mandou a Polícia Federal investigar o episódio.


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