Folha de S. Paulo


Atos pró-impeachment no Congresso devem crescer na próxima semana

Os integrantes do grupo Aliança Nacional dos Movimentos Democráticos, que se acorrentaram a uma das pilastras do Salão Verde da Câmara dos Deputados na quarta-feira (28), em um ato simbólico pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, e estão acampados no local desde então, devem receber reforços na próxima semana.

O grupo, que hoje conta com 14 pessoas que se revezam na vigília pró-impeachment, vai ganhar a adesão de pelo outras 15 entre segunda (2) e terça (3). Também nestes dias, os manifestantes acampados do lado de fora do Congresso, do MBL (Movimento Brasil Livre), devem receber mais apoio ao movimento que pede a saída de Dilma do cargo.

Apesar do feriado do dia do servidor, comemorado na última quarta (28), mas transferido para esta sexta (30), e do Congresso escuro, do tempo chuvoso e fresco em Brasília, nenhum dos dois grupos desistiu das ações.

Ambas as instalações contra a petista foram autorizadas pelo presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acusado de corrupção e lavagem de dinheiro e suspeito de esconder contas na Suíça. A postura, no caso dos acampados no gramado em frente ao Congresso, vai de encontro a uma norma conjunta da Câmara e do Senado de 2001 que proíbe qualquer tipo de instalação no local.

Cunha alegou à Folha que permitiria movimentos similares de qualquer tipo de manifestante, desde que a ordem pública não fosse colocada em xeque. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), cogitou a remoção dos manifestantes do local na última quarta (28), quando houve confusão com a chegada de um grupo do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto). Para evitar mal estar com Cunha, contudo, Renan foi demovido da ideia por aliados.

Os manifestantes têm recebido doações de alimentos de apoiadores dos movimentos. O grupo da "ocupação", como gostam de ser chamadas as pessoas que estão do lado de dentro da Câmara, rechaçaram a ideia de estarem sendo beneficiadas para estarem dormindo no carpete verde do Salão Verde. Questionados sobre seus respectivos empregos, explicaram que escolheram apoiar a ideia, aproveitaram férias, folgas, ou simplesmente fecharam consultórios e comércio para participar da ação.

"Sou brasileiro. Não interessa o que eu faço ou vou fazer. Estou aqui defendendo o meu país", afirmou George Bernardes Correa, um dos oito integrantes do grupo que estava no Congresso na manhã desta sexta (30), apesar de não haver ninguém trabalhando no local.

Jessica Polesi mora em Vitória, é especialista em medicina do sono, e conta ter deixado seu consultório para apoiar a causa "por um país melhor".

À frente da movimentação está a especialista em estratégia, Carla Zambelli, que tem participado ativamente do movimento pró-impeachment e foi uma das responsáveis por articular a união da oposição com o ex-petista Hélio Bicudo, autor do pedido de impeachment que está nas mãos de Eduardo Cunha. Conforme revelou a Folha, o presidente da Câmara deve receber da área técnica da casa nos próximos dias um parecer favorável ao seguimento do pedido de impeachment de Dilma.

Zambelli destaca que o movimento é "apartidário" e de "não ataque" e ressalta que, para eles, a saída de Dilma é apenas o início. "Se acusam Cunha de receber propina, tem uma série de outras pessoas recebendo propina antes, que começa na Presidência da República".

O grupo conta também com apoio de vários parlamentares, de vários partidos, que deixaram mensagens em folhas, coladas na pilastra símbolo da "ocupação".


Endereço da página:

Links no texto: