Folha de S. Paulo


Crítica

Diários de FHC podem ser lidos do começo ao fim ou ao contrário

Há duas maneiras de ler o primeiro dos quatro volumes de "Diários", os registros produzidos pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso no período em que ocupou a Presidência da República.

O livro de 928 páginas pode ser cansativo por contar muitos detalhes irrelevantes sobre assuntos que já não interessam mais.

Mas a leitura cronológica (se muitos galhos da floresta forem relevados) talvez seja a melhor maneira para entender inicialmente como o seu governo foi montado.

E como evoluiu, buscando um objetivo duplo sobre um terreno ainda movediço: consolidar a recente estabilização do Plano Real e preparar o terreno para as reformas estruturais que viriam adiante. Esses são os principais vetores de seu governo em 1995 e 1996, época das gravações deste primeiro dos quatro volumes prometidos.

Os capítulos iniciais devem ser lidos assim. É interessante acompanhar a montagem da equipe econômica e as medidas pós Real, como a necessidade de desindexar a economia e estabelecer concessões que engendrariam mais à frente as privatizações.

E as surpresas que apareceriam no caminho, como os sinais de insolvência e providências tomadas em relação a bancos tradicionais como Econômico e Nacional. Isso em momento de estabilização recém conquistada. A rotina de FHC aqui é extenuante.

O outro modo de ler a obra é começando por trás, pelo índice remissivo. E pescar, ao longo do livro, o que FHC disse naqueles dois anos sobre personagens que atravessaram o seu caminho. Isso permite observar, a cada citação, o contexto se modificando ao longo do tempo.

Desse modo, o leitor pode percorrer em linha quase reta assuntos específicos a partir de nomes e instituições de seu interesse. Sem ter de se perder em desvios com jantares e viagens e se livrando de passagens desinteressantes.

Diários da Presidência (Vol. 1)
Fernando Henrique Cardoso
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Como em meados de 1996, nos relatos de encontros com personagens quase irrelevantes até mesmo na época.

Mas a maior frustração talvez seja o fato de os registros trazerem pouco de revelador ou polêmico. É de se pensar até se o livro terá grande serventia para ajudar a contar a história do período, que coincide com a massificação de notícias na internet.

É possível que isso mude nos próximos três volumes, quando temas difíceis, como os relatos de compra de votos no Congresso para a aprovação da emenda que autorizou a sua reeleição (1997) e a desvalorização do real depois de ganhar o segundo mandato (1999), aparecerem.

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DIÁRIOS DA PRESIDÊNCIA 1995-1996

  • AUTOR Fernando Henrique Cardoso
  • EDITORA Companhia das Letras
  • PREÇO R$ 74,90 (928 págs.)

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