Folha de S. Paulo


Lobista da Lava Jato acusa mais dois ex-gerentes da Petrobras de corrupção

O lobista Fernando Antonio Falcão Soares, conhecido como Fernando Baiano, acusou mais dois gerentes da Petrobras no recebimento de propinas na estatal: Luis Carlos Moreira, ex-gerente executivo de Desenvolvimento de Negócios da Área Internacional, e Rafael Mauro Comino, ex-gerente de Inteligência de Mercado e ex-gerente de Negócios de Abastecimento da Área Internacional.

Ambos deixaram a Petrobras em 2008. Mais dois homens da Petrobras foram citados por Baiano, um apenas pelo prenome, "Demarco", então funcionário da estatal, e outro que já havia deixado a companhia em 2002, Cezar Tavares.

Segundo Baiano, eles integravam um grupo que recebeu dele propinas pagas no exterior em torno do contrato de aluguel de um navio-sonda fornecida pela japonesa Mitsui, empresa representada por Baiano nas negociações com a Petrobras. A sonda denominada Petrobras 10.000 custou cerca de US$ 586 milhões aos cofres da estatal.

"Do valor da comissão do depoente [Baiano], ele repassaria aproximadamente US$ 8 ou 9 milhões de dólares para os funcionários da Petrobras", disse Baiano, que ficaria "com cerca de US$ 6 milhões ou US$ 7 milhões".

No depoimento prestado à força tarefa da Operação Lava Jato, em delação homologada pelo STF, Baiano disse que Moreira, Comino, Demarco e outro ex-gerente da área Internacional, Eduardo Musa, "todos eles receberam valores".

"[Baiano] sabe disto porque tratou de valores com eles e porque os nomes deles vinham nas tabelas indicadas por Morteira", disse o lobista. Ele contou que era Luis Moreira quem indicava as contas e os valores a serem pagos. Disse ter transferido US$ 800 mil em apenas uma das transações.

Embora não tenha citado as datas exatas dos pagamentos, eles teriam ocorrido depois de 2005 e antes de 2006. Baiano também disse ter se reunido com Moreira, Tavares e Comino para discutir os pagamentos em um "escritório particular" de Moreira, no edifício Christian Barnard, na rua Senador Dantas, no Rio.

Quando Baiano indagou a razão do escritório, Moreira teria lhe dito que "começou a prestar consultoria em algumas áreas, inclusive para a Cedae", a companhia de água e esgoto do Rio, "mesmo ainda sendo funcionário da Petrobras".

Moreira prestou depoimento à CPI da Petrobras, na Câmara dos Deputados, em junho de 2014, quando falou sobre as suspeitas em torno da compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, e foi identificado na comissão como ex-gerente executivo internacional da Petrobras. No depoimento, como o gerente responsável pela área da aquisição da refinaria de Pasadena.

Três dos citados por Baiano (Moreira, Comino e Tavares) hoje integram uma mesma consultoria, a Cezar Tavares Consultoria, com sede no Rio.

Na esteira do mesmo contrato de navio-sonda, Baiano disse que no primeiro semestre de 2006 começou "a parte política". Baiano disse ter se reunido nessa época com Moreira e o então diretor da área internacional, Nestor Cerveró, que lhes contou ter sido chamado a Brasília pelo senador Delcídio Amaral (PT-MS) e pelo então ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau. Os dois teriam dito a Cerveró que "era necessário dar apoio" às campanhas eleitorais de Delcídio e dos senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Jader Barbalho (PMDB-PA).

Na conversa com Cerveró e Moreira, Baiano disse que ficou decidido que iria fornecer US$ 4 milhões para "aqueles políticos". Em troca, o PMDB daria "sustentação a Cerveró", além de haver no horizonte a possibilidade do aluguel de uma nova sonda.

Baiano, porém, disse que não queria "ficar responsável pelo pagamento dos políticos", tarefa então confiada a outro lobista, Jorge Luz. Consultados, os políticos teriam aceitado o nome de Luz como intermediário, mas o valor deveria ser de US$ 6 milhões.

OUTRO LADO

Procurados pela Folha na noite desta segunda-feira (19), Moreira, Tavares, Comino não foram localizados. Em nota publicada em rede social, Delcídio negou as acusações, classificando-as de um "absurdo".

Renan Calheiros também negou as acusações e disse, por meio de nota distribuída por sua assessoria, que não conhece Baiano e não autorizou ninguém a falar em seu nome em qualquer circunstância. "O senador reitera que suas relações com empresas públicas e privadas nunca ultrapassaram os limites institucionais."

O ex-ministro Silas Rondeau (2005-2007) negou ter participado de qualquer reunião com Cerveró e Delcídio para tratar do contrato do navio-sonda. "Nunca vi o sr. Fernando Baiano na minha vida, a não ser em fotografia. Isso é uma absurda mentira, quero ver falar isso na minha frente. Isso é uma canalhice, nunca participei de reunião com ele nem com ninguém para tratar desse assunto, que nunca foi da minha alçada", disse Rondeau.

Jader havia informado que irá pedir a convocação de Baiano para depoimento no Senado.

A Folha não conseguiu localizar o advogado Jorge Luz.


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