Folha de S. Paulo


Lobista põe em xeque delação de ex-diretor da Petrobras

A delação do lobista Fernando Soares, conhecido como Baiano, coloca em xeque alguns relatos feitos pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa sobre valores que este recebeu de propina, segundo depoimentos do caso obtidos pela Folha.

Uma das empreiteiras investigadas na Operação Lava Jato, a Andrade Gutierrez, vai pedir no Supremo a anulação da delação de Costa por incongruências e omissões.

Baiano contou em depoimento que pagou entre R$ 20 milhões e R$ 25 milhões para o ex-diretor da estatal. Já os valores que Costa diz ter recebido de Baiano em 2012 são muito menores: US$ 4 milhões (R$ 8 milhões), dos quais de R$ 2 milhões a US$ 2,5 milhões saíram da Andrade, e US$ 1,4 milhão da Estre Ambiental.

Baiano diz ainda que deu entre R$ 2 milhões e R$ 3 milhões a um sobrinho da mulher de Costa e que uma das entregas foi ele mesmo quem fez, de helicóptero.

O lobista afirmou ainda que pagou R$ 900 mil de suborno a um ex-diretor da Andrade Gutierrez chamado Luis Mário Mattoni, que mantinha relações com Costa na Petrobras e não foi citado pelo ex-diretor da Petrobras em seu acordo de delação.

Há suspeitas de que Costa estaria protegendo o ex-diretor da Andrade Gutierrez ao omitir que ele era o seu contato com a empreiteira.

"A versão do Fernando é absolutamente incompatível com a acusação dos procuradores e com o que diz Costa", diz Juliano Breda, advogado de executivos da Andrade que estão presos. São três os detidos da empresa: Otavio Azevedo, presidente do grupo, Elton Negrão, presidente da empreiteira, e Flávio Barra, presidente da AG Energia.

Baiano diz que nunca viu nenhum dos três discutir pagamento de suborno.

Breda diz que vai pedir ao Supremo a anulação da delação. A omissão pode provocar redução dos benefícios a Costa e até o cancelamento do acordo. O advogado de Costa, João Mestieri, afirma que a versão de Baiano é mentirosa (leia texto ao lado).

O ex-diretor foi o primeiro delator da Lava Jato e devolveu cerca de US$ 28 milhões que tinha fora do país.

Baiano refuta, no depoimento sobre a Andrade Gutierrez, que tenha sido operador do PMDB. Segundo ele, foi Costa quem criou essa versão para desviar recursos para ele e justificar o sumiço ao PP. "Paulo Roberto usava o seu nome [do PMDB] para justificar desvios para ele", disse Baiano no depoimento.

Costa foi indicado ao cargo pelo PP e partir de 2007 recebeu apoio do PMDB. A diretoria de Abastecimento repassa recursos para PP, PMDB e PT.

O lobista diz que ficou sabendo dessa fama de "ser do PMDB" ao encontrar o doleiro Alberto Youssef e o deputado federal Pedro Corrêa (PP-PE) num restaurante na Marina da Glória, no Rio. Ao ver o lobista, Corrêa teria dito: "Então você é o Fernando Baiano que está levando nosso dinheiro para o PMDB?".

Baiano respondeu que não havia tirado dinheiro de ninguém e que cumpria ordens de Costa.

Colaborou FELIPE BÄCHTOLD, de São Paulo


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