Folha de S. Paulo


Citado por delator como receptor de propina é 'faz tudo' de Cunha

Citado pelo lobista Fernando Soares como o responsável por receber parte da propina destinada ao deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Altair Alves Pinto, 67, acompanha o presidente da Câmara há mais de dez anos. Apesar disso, sempre evitaram manter vínculos entre si.

Com apenas o Ensino Médio completo, Altair já cumpriu o papel de motorista de Cunha a intermediário na compra e venda do atual gabinete parlamentar do deputado no Rio.

Em 2003, Altair comprou em leilões três salas do Sesi (Serviço Social da Indústria) no edifício De Paoli, no centro do Rio. Um ano depois, as revendeu pelo mesmo preço de aquisição para Cunha.

Três anos antes, ele estava junto com o peemedebista no carro alvejado por ladrões na região central do Rio numa tentativa de assalto.

Na sexta (9), Cunha usou carro em nome de Altair para ir a um encontro com prefeitos no Rio.

O colaborador do peemedebista é apontado por políticos como uma espécie de "faz tudo" do deputado.

Altair foi citado pelo lobista conhecido como Fernando Baiano como sendo o responsável por receber entre R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão em 2011. A entrega ocorreu, segundo o relato, na sala da qual ele já foi dono, e atualmente é usada como gabinete de Cunha.

Altair costuma se apresentar como empresário do setor de pedras e granitos. É desde 2005 dono da Indústria Aladim, de extração mineral, e da Indústria Havante, de criação de animais, ambas sediadas em Muqui (ES). No WhatsApp, se apresentava até esta sexta (16) com uma foto do ator norte-americano Bruce Willis.
Ele ocupou cargo comissionado no gabinete do peemedebista na Assembleia Legislativa do Rio entre 2001 e 2002. É o último vínculo oficial entre os dois.

Em 2003, quando Cunha foi eleito deputado federal, Altair permaneceu no Rio, ainda prestando serviços ao deputado. Contudo, ficou lotado até 2011 no gabinete do deputado estadual Fábio Silva (PMDB), filho de Francisco Silva, que lançou o presidente da Câmara na política.

Desde 2012, Altair não aparece lotado em nenhum cargo público. Ainda assim, há dois anos ele declarou em escritura ter como endereço comercial o gabinete parlamentar de Cunha. O deputado assina o mesmo documento.

Altair já fora citado em investigações sobre suposto esquema de propina à época da gestão de Cunha na Cehab (Companhia Estadual de Habitação). Nenhum dos dois sofreu condenações na Justiça sobre o caso.
Assim como o presidente da Câmara, o colaborador também é alvo da CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Ele é acusado sob acusação de ter obtido lucro indevido de R$ 121 mil em operações da Fundação Assistencial e Previdenciária da Emater do Paraná.

Altair tentou, sem sucesso, fechar um acordo com a CVM pagando R$ 20 mil. Procurado pela Folha, ele não quis comentar o caso.


Endereço da página:

Links no texto: