Folha de S. Paulo


Dilma critica 'moralistas' e diz que ninguém tem força para atacá-la

Ernesto Rodrigues/Folhapress
Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula durante o 12º Congresso da CUT em São Paulo
Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula durante o 12º Congresso da CUT em São Paulo

Num dos discursos mais duros desde que foi reeleita, a presidente Dilma Rousseff criticou os "moralistas sem moral" e "conspiradores" que tentam obter o impeachment para interromper um mandato conquistado com 54 milhões de votos.

Sem citar nominalmente nenhum dos adversários ou conspiradores, Dilma disse que nunca fez da vida pública um meio para obter vantagem pessoal.

Ela entrou no auditório do centro de convenções do Anhembi, em São Paulo, acompanhada dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e José Mujica (Uruguai), e discursou na abertura do 12º Congresso da CUT.

"Eu me insurjo contra o golpismo e suas ações conspiratórias, e não temo seus defensores. Pergunto com toda a franqueza: quem tem força moral, reputação ilibada e biografia limpa suficientes para atacar a minha honra?" discursou, sendo aplaudida de pé por uma plateia de mais de 2.000 sindicalistas e militantes simpáticos ao governo.

No discurso de 37 minutos, Dilma foi interrompida seis vezes sob aplausos e gritos de "não vai ter golpe" e "Dilma, guerreira do povo brasileiro".

A presidente fez ainda duros ataques às tentativas de instaurar um processo de impeachment sem, segundo ela, haver fato jurídico definido ou qualquer fato que a desabone.

"O artificialismo dos argumentos é absoluto. A vontade de produzir um golpe contra o funcionamento regular das leis e das instituições é explícita. Jogam no quanto pior, melhor, o tempo todo. Pior para a população e melhor para eles", disse a presidente.

Sem mencionar o ex-presidente João Goulart (1919-1976), deposto pelo golpe militar de 1964, a mandatária também traçou um paralelo com o episódio –usando as expressões "filme já visto" e "final trágico"– e fez um apelo à base social da esquerda brasileira.

"Ninguém deve se iludir. Nenhum trabalhador pode baixar a guarda", disse.

Ao prometer não se dobrar, ela desafiou a oposição: "Quem quer a paz social e a normalidade institucional não faz a guerra política e não destila ódio e intolerância".

"A obsessão dos inconformados com a derrota nas urnas [quer] obstruir o mandato de uma presidenta eleita contra quem não existe acusação de crime algum. Lutaremos e não deixaremos prosperar", disse.

Dilma também defendeu o uso dos bancos oficiais para o financiamento de programas sociais –manobra conhecida como "pedaladas fiscais" e que foi condenada, por unanimidade, pelo TCU (Tribunal de Contas da União). Ela disse que o governo vai continuar questionando os critérios da reprovação das contas do Executivo.

"Teremos uma decisão equilibrada do Congresso Nacional. O que chamam de 'pedaladas fiscais' são atos administrativos usados por todos os governos", afirmou.

Dilma disse que o governo continuará questionando a decisão do TCU que reprovou as chamadas "pedaladas fiscais" –atrasos em repasses de recursos devidos pelo governo a bancos oficiais para gerar superavit fiscal.

Ela também afirmou que jamais negociará com mal-feitos: "Muita coisa está em jogo: a democracia pela qual lutamos, o voto popular como base do poder e a inviolabilidade do mandato concedido pelo povo".

"Para impedir o retrocesso, conto com as forças democráticas do Congresso, conto com a serenidade dos nossos tribunais, conto com o povo brasileiro e com os movimentos sociais", completou.


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