Folha de S. Paulo


Ministros do TCU decidem manter data do julgamento de contas de Dilma

Após uma reunião no gabinete da Presidência do TCU (Tribunal de Contas da União), os ministros da Corte decidiram que o pedido de suspeição do colega Augusto Nardes, relator das contas da presidente Dilma Rousseff do ano de 2014, será analisado pelo plenário na quarta-feira (7), antes do julgamento sobre as finanças do governo. A decisão sinaliza uma derrota para o Planalto, que tentava ganhar tempo ao anunciar que pediria o afastamento de Nardes do caso neste domingo (3).

A decisão não foi unânime. Integrantes da Corte defenderam que, para evitar questionamento, o ideal seria avaliar a suspeição de Nardes na quarta-feira (7) e, em seguida, marcar uma nova sessão, ainda que extraordinária, para avaliar rapidamente as contas da presidente. A maioria, no entanto, entendeu que o assunto deveria ser encerrado logo, e que há precedentes para justificar esse procedimento, com base em julgamentos anteriores.

O governo pediu a suspeição de Nardes alegando que ele antecipou sua posição em entrevistas sobre o tema e que teria analisado o caso com viés político. O regimento do TCU é omisso sobre o procedimento a ser adotado nesses casos, mas é de praxe é que o presidente da Corte peça um parecer ao ministro que é alvo do questionamento, Nardes, nesse caso, e, após sua manifestação, indique um relator para o caso.

Depois disso, o plenário se manifesta sobre a suspeição. A posição majoritária da Corte nesta segunda (5), no entanto, foi a de que Nardes se pronunciará sobre a ação do governo contra ele antes da sessão de julgamento das contas de Dilma e que, em seguida, o plenário votará a favor ou contra a suspeição do ministro. A expectativa é de que ele tenha o apoio unânime dos colegas.

Após a ofensiva do governo, Nardes afirmou que não se considerava impedido para julgar o caso e que seu posicionamento no caso foi técnico.

CRÍTICAS

A ofensiva do governo para tentar tirar Nardes da relatoria do processo das contas de Dilma foi alvo de críticas. Líderes dos principais partidos de oposição classificaram a medida como uma ação "autoritária", "bolivariana" e "truculenta".

O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), disse que a ação é uma demonstração de "desespero" e "truculência" que "soa como atentado à própria democracia".

O TCU viu como "intimidação" o pedido do Planalto de afastamento do ministro, e três associações de servidores ligados ao tribunal lançaram uma nota de apoio ao processo de votação de contas do governo conduzido pelo órgão.

Nesta segunda, O presidente do TCU, ministro Aroldo Cedraz, já havia dito ver poucas chances do tribunal adiar o julgamento das contas de 2014 do governo Dilma Rousseff.

Questionamentos do TCU

JULGAMENTO

Doze irregularidades que contrariam a Constituição, a Lei de Responsabilidade Fiscal e a Lei Orçamentária levarão o TCU (Tribunal de Contas da União) a recomendar ao Congresso, pela primeira vez em 80 anos, a rejeição das contas de um presidente da República.

Dentro do órgão, os problemas nas contas do governo são considerados tão graves que a maior probabilidade é de que a reprovação seja unânime -apesar de o governo pressionar ministros para que ao menos um deles aceite os argumentos da presidente e dê início a um voto revisor.

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A decisão das pedaladas

Governo tentou adiar julgamento no TCU, mas corte o manteve na quarta (7)

O QUE O GOVERNO DIZ: O ministro Augusto Nardes, relator do processo das contas do governo, caso que inclui as pedaladas fiscais, antecipou seu voto e teve viés político. O governo aponta declaração de Nardes de que o TCU fará história com a votação e o fato de ele ter recebido grupo pró-impeachment

Danilo Verpa/Folhapress

O QUE O MINISTRO DIZ: Não se sente impedido para atuar no julgamento, pois não vazou nem antecipou seu voto. Diz apenas ter disponibilizado parecer prévio aos demais ministros antes da votação, como exige o regimento do TCU. O texto recomenda a rejeição das contas. Segundo o ministro, suas falas sobre o tema ocorreram após o tribunal ter debatido o caso

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Wilson Dias/Agência Brasil
Aroldo Cedraz recebe de Luiz Inácio Adams pedido sobre data do julgamento das contas
Aroldo Cedraz recebe de Luiz Inácio Adams pedido sobre afastamento de Nardes

Trâmite acordado entre ministros do TCU

  1. Aroldo Cedraz, presidente do TCU, recebe de Luiz Inácio Adams, advogado-geral da União, pedido para afastar Nardes do julgamento das contas. A questão tem que ser resolvida antes da votação
  2. Cedraz deve enviar o processo para que Nardes se pronuncie
  3. Nardes já disse não se sentir impedido e deve se pronunciar na quarta, antes da votação
  4. O plenário votará a favor ou contra o afastamento do ministro. A expectativa é de que ele tenha o apoio unânime dos colegas
  5. Se o TCU não afastar Nardes, o Planalto deve recorrer ao STF (Supremo Tribunal Federal)

Trâmite na Corregedoria do TCU

  1. Pedido foi encaminhado também à Corregedoria
  2. O órgão deve instaurar um processo interno para investigar se Nardes está apto para votar. Para o governo, isso tem que ser feito antes do julgamento das contas, mas o procurador junto ao TCU diz que a denúncia não impede a votação
  • Se concluir que não: Pode aplicar uma sanção ao ministro, mas não afastá-lo do caso
  • Se concluir que sim: Nardes não sofre sanção

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