Folha de S. Paulo


Lobista e ex-diretores da Petrobras fizeram viagens para degustar vinhos

Luciano Veronezi/Editoria de Arte/Folhapress
CONFRARIA DO VINHO (título fantasia)Faerman, que assinou acordo de delação premiada, fez duas viagens internacionais com os então diretores da Petrobras Jorge Zelada e Renato Duque para conhecerem vinícolas e provarem vinhos. A primeira foi para a Argentina em 2011, à região de Mendoza, enquanto a segunda foi para a França (ainda estamos levantando detalhes desta). As viagens foram descobertas em investigações internas da própria Petrobras. Zelada é acusado de ter repassado documentos confidenciais da estatal ao lobista. Faerman é investigado sob suspeita de pagar propina a funcionários da Petrobras, enquanto Duque e Zelada estão presos por conta da Operação Lava Jato.

Uma investigação interna da Petrobras achou indícios de que os ex-diretores Jorge Zelada e Renato Duque fizeram uma segunda viagem ao exterior para degustar vinhos em companhia do lobista da empresa holandesa SBM no Brasil, Julio Faerman.

O período previsto para a viagem, de acordo com documentação encontrada, foi de 14 a 22 de outubro de 2011, com destino à França.

Eles teriam ido mais especificamente à região de Bordeaux, que produz alguns dos principais vinhos franceses e possui grande quantidade de vinícolas.

Investigadores apuram se o ex-presidente da Petrobras América, José Orlando Melo de Azevedo, e o sócio de Faerman, Luís Eduardo Barbosa da Silva, também participaram da viagem.

O grupo formava, de acordo com fontes com acesso à investigação, uma espécie de "confraria do vinho", com esse interesse em comum.

Duque e Zelada atualmente estão presos devido à Operação Lava Jato, sob acusações de corrupção. Eles deixaram os cargos de direção na estatal em abril de 2012, portanto, após as viagens.

Já Faerman é investigado sob acusação de ter pago propina a funcionários da Petrobras, mas assinou um acordo de colaboração premiada com o Ministério Público Federal no qual admite e detalha os crimes cometidos.

A investigação sobre Faerman está concentrada no Ministério Público Federal no Rio, enquanto a Lava Jato corre no Paraná.

Zelada também é suspeito de ter vazado documentos sigilosos da Petrobras a Faerman. A estatal descobriu que a senha do ex-diretor foi usada para extrair documentos que posteriormente foram encontrados em computadores da empresa holandesa.

Uma primeira viagem foi feita pelo mesmo grupo em maio de 2011, segundo afirmou o ex-ministro da CGU (Controladoria-Geral da União), Jorge Hage, à CPI da Petrobras.

Documentos também obtidos por auditoria interna da Petrobras apontam que essa primeira viagem ocorreu entre 31 de maio e 5 de junho de 2011, a vinícolas da região de Mendoza, na Argentina, mas não incluem o nome de José Orlando de Azevedo.

A programação da viagem descrita em um e-mail localizado por investigadores incluía "golfe, cavalgada na pré-cordilheira, rafting e relax no SPA".

O título do e-mail é: "Mendoza, amigos e vinhos".

Os achados foram enviados pela Petrobras à CGU e ao Ministério Público Federal, para que as investigações fossem aprofundadas.

A Folha apurou que não foram encontradas evidências de que a SBM pagou a viagem para os ex-funcionários da Petrobras. As investigações até agora apontam que os representantes da SBM cuidaram da programação da viagem, mas que o pagamento foi feito por conta própria por cada um dos participantes.

OUTRO LADO

A defesa de Zelada afirmou que se tratou de uma viagem de lazer "absolutamente normal" paga por ele próprio. Diz ainda que só foram tratadas "amenidades" entre eles, sem nada irregular.

Procurada, a defesa de Duque não comentou. José Orlando não foi localizado.

A defesa de Faerman afirmou que não poderia comentar os fatos porque sua delação premiada atualmente está sob sigilo. A Folha deixou recado no escritório de Luís Eduardo Barbosa, mas não obteve resposta.


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